Translate

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Devo Admitir

Que, embora as vezes soe insensata, admiro a sensatez, mas se tem algo que verdadeiramente me encanta, muito mais do que qualquer ato sensato ou eticamente correto, se chama determinacao. Tenho uma verdadeira e perigosa fascinacao pela chama luzente da forca brutal escondida por tras de cada batalha interna, ao lado de cada vitoria tao arduamente conquistada.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pseudo Infância


 

Ela estava sentada em sua escrivaninha já fazia um bom tempo, sentara de dia e só saira a noite: Tudo que queria era ter um pouco de fuga imaginaria, criação literária que arrepia seus neurônios e da a ela um motivo para ficar sentada durante tanto tempo. Mesmo que o dia la fora pudesse estar notoriamente belo, ela só queria estar em seu quarto, absorta em sua criação.

Os cabelos cor de vermelho sangue caiam-lhe nas costas, batendo em sua cintura oculta entre as malhas da blusa enfeitada com pedras de acrílico, alias, odiava aquela blusa. Usava tal vestimenta apenas para fazer feliz o pai ausente que, num momento de delírio havia lembrado de sua filha única. Ainda assim, a menina continuava odiando o presente, mas fazia questão de usa-la, fosse por saudade, fosse por simples saciacao de sua consciência culpada que embebava seu cérebro de um sentimento que a forçava a reciprocidade do amor paternal.

Alem de saber escrever e odiar sua blusa, odiava também o estudo, por motivos complexos demais para uma pequena menina de apenas onze anos. Na realidade, ela gostava de estudar, mas não compreendia a forçosa tarefa de ir ate um local especifico que a deixasse a mercê de adultos mau-humorados e alunos desinteressados. A menina também odiava seu nome e, por esse motivo não me é permitido revela-lo. Sentia-se confusa na pior fase de sua vida, estava tornando-se adulta e temia tal consequência.

So havia duas coisas que ela amava: as palavras e seu coelho. Tinha um verdadeiro amor pela escrita, o que explica o fato de tal ato ter se transformado em seu principal refugio. E, quanto mais lia, mais sentia vontade de escrever sobre as doces ilusões ou terríveis, absurdos medos que invadiam sua mente precoce. Muitas vezes sentia-se sozinha e, ao dar-se conta disso, passava horas tentando compreender a difícil personalidade de seu coelho, o qual era desprovido de nome. A menina achava que se o submetesse a um substantivo próprio sem seu consentimento, estaria forçando a ele a mesma injustiça que fora imposta a ela e, por temer compreende-lo erroneamente, privava-o de tal sofrimento.

Mesmo que esse relacionamento pudesse ser estranho, ela não se cansava de falar com o amigo: uma conversa sem palavras, verbalizada em olhares e compreendidas pela intuição de ambos. A amizade era algo difícil de ser compreendido quando se possuía tão pouco conhecimento da arte social. Por isso, a menina contentava-se com seu coelho e seus livros. Muitas vezes esquecia-se do pai por não vê-lo constantemente e só era incomodada e cuidada adequadamente por suas serviçais. Não fazia questão de conhecê-las, quer fosse por puro costume misantropo, quer fosse por puro desinteresse.

Era uma menina estranha, solitária. Uma pré-adolescente que sem querer havia se tornado mais adulta que qualquer adulto que conhecesse. Ainda possuía os olhos inocentes de criança, assim como o corpo infantil, mas sentia-se velha demais para a sua idade, como se não pertencesse aquela vida. Ela não sabia ao certo quem era, mas apreciava sua solidão, enquanto criava os mais lindos mundos dentro de seu caderno de escrita.

Tinha talento, mas faltavam-lhe as perspectivas. Estava em constante luto de tristeza. Era cética, encantadora. E por mais que se destacasse, jamais quisera ser vista. Era uma velha precoce, uma criança prodígio. Uma alma sem lugar em um mundo inescrupuloso.Derramava lagrimas de fogo no cair da noite, quando imaginava sua mae brincando no mundo dos anjos. Queria vê-la de novo, mas a invejava por estar em um lugar melhor que ela. E assim, adormecia: na doce inocência dos onze anos, complexas ideias de quarenta.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mal-estar de um anjo

[...]"A verdade é que ser anjo estava começando a me pesar. Conheço bem esse processo do mundo: chamam-me de bondosa, e pelo menos durante algum tempo fico atrapalhada para ser ruim. Comecei também a compreender como os anjos se chateiam: eles servem a tudo. Isso nunca me ocorrera. A menos que eu fosse um anjo muito embaixo na escala dos anjos. Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo. A alegria satisfeitona daquela senhora começava a me deixar sombria: ela fizera uso exorbitante de mim. Fizera de minha natureza indecisa uma profissão definida, transformara minha espontaneidade em dever, acorrentava-me, a mim, que era anjo, o que a essa altura eu já não podia mais negar, mas anjo livre. Quem sabe, porém, eu só fora mandada ao mundo para aquele instante de utilidade. Era isso, pois, o que eu valia. No táxi eu não era um anjo decaído: era um anjo que caía em si."


 

- Clarice Lispector

Sucumbida ao ócio

Domingo.

Não é incrível o fato de que o tempo passa absurdamente rápido quando não se faz absolutamente nada de agradável para enganá-lo? Todos os domingos são assim para mim. Perco-me nessa sensação inesgotável de ócio pálido, sedutor, exorbitante que, de fininho, faz questão de abraçar-me. Fico a observar navios da minha janela. Não é como se isso fosse a coisa mais divertida do mundo, mas ainda assim é uma coisa a se fazer. E, se tenho de ser honesta, admito que prefiro mil vezes ficar observando navios do que decorando os traços inócuos e pálidos do meu teto de gesso branco. Afinal, a que isso me levaria? Ficaria tão doida de ócio, que logo desabaria em um sono estúpido e fugaz, o qual não adiantaria para saciar meu sono perturbante. Odeio sentir sono. Esse corpo humano o qual habito não condiz em nada com minhas ambições. Ora, pois, custava ao Senhor dar-me asas? Inescrupulosa blasfemadora me tornei! Chateada pelo tédio, ouso interrogar as benfeitorias concluídas por aquele me criou e, nesse erro de palavras sadicamente proferidas em fila decadente, perco-me em pecados mortais.

Mas seria Ele então possuidor do mundo e criador de tudo que me parecia impossível, não seria?Eu bem sabia que o padre da paróquia jamais mentiria na missa de domingo ao dizer tais palavras em suas orações fervorosas, mas, agora enquanto observava os navios a deixar o pórtico reluzente à luz vermelha do sol crepuscular, pergunto-me se suas palavras soariam verdadeiras. Ora, por que braços e não asas? Não iria custar nada. Nadinha mesmo. Eu bem sabia do seu poder e por isso me tornava impaciente. Queria ter asas! Meu Deus, eu queria ter asas! O quão feliz seria se pudesse voar ao invés de engolir a seco essa visão bela, mas ainda assim atordoante, dos navios a me deixar. Pior do que isso: Nem de perto observo, por que não me é permitido. Sou apenas uma criança, dizem minha mãe e minhas tias, e por estar aprisionada nesta alma infantil, eis que não tenho poder algum sobre meus passos de forma que sou terrivelmente obrigada a observar a vida por essa janela medíocre de persiana branca.

Batem à porta. Assustam-me. Esses monstros vorazes e bondosos a quem chamamos de mãe. Por que me incomoda tanto? Não estaria ela bastante satisfeita ao deixar-me presa em sua ignóbil e tola força maternal? Priva-me a liberdade, a sádica que me pariu. Mas minha revolta não parece ser suficiente para deixá-la furiosa, o que a fez ter a desprezível idéia de cozinhar um delicioso bolo de maçã com canela. Oh que golpe mais baixo o dessa mulher! Como a criatura sabe exatamente como domar os monstros que me põe a odiá-la? Não sei... Duvido que seja bruxa, maga, feiticeira, fada ou sereia. Alguém que tenha o poder de enfeitiçar-me com seus venenos intoxicantes e convidativos, perdendo-me em um doce e inebriante sabor que apenas as suas mãos são capazes de produzir. Ela olha-me com os olhos calorosos, como se estivesse feliz. Oh Deus, por que não me destes asas? Assim poderia eu fugir voando dessa criatura terrível que obriga-me a amá-la mesmo que a odeie. Estaria eu agora em um navio igual a um daqueles que observei partindo, ao invés de conter-me agradavelmente na mesa ao lado dela, sendo enganada com suas caricias de mãe amorosa. Quero fugir, não me ouves pois? Eu sou má. Sou um ser maligno que despreza as afeições. E sou criança fraca, que ama tuas atenções.

Oh Deus, por que destes asas a ela e não a mim? Revolto-me. Revolto-me em admitir que destes asas apenas aos anjos, por que eles sabem conter-se em sua liberdade enquanto que eu, criança inútil e teimosa, ouso interrogar suas bondosas intenções.

Mas ainda quero ir ate aos navios e não terá mãe ou anjo ou asas que me impeçam de ir.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paralisada

Fora em uma madrugada agradável de inverno. O mês era Julho. Lembro-me nitidamente da sensação em que pousara meu mais recente e assustador momento de desespero. De alguma forma ainda não compreendida por mim, eu estava acordada enquanto dormia. Demorei para perceber que já havia passado por isso antes, mas não quer dizer que a experiência traga o costume. Eu não estou acostumada a isso. E honestamente, temo nunca achar tal ato costumeiro ou comum. Oh sim, sim, lembro-me com perfeita exatidao de todos os segundos. Lembro da magnifica sala de estar na qual me encontrava, acompanhada de uma mulher bonita e desconhecida que, deitada em um diva vermelho, olhava-me curiosa. Eu, um tanto perdida, olhei para a janela que ficava a alguns metros de mim. Era noite, estava chovendo muito, mas não fazia frio. Estranhamente estávamos em uma noite de verão, pois a mulher usava um vestido e eu estava com uma blusa sem mangas. Um atracão irresistível entre mim e a janela pareceu atravessar qualquer duvida que eu pudesse ter e, sem pensar, me movi em sua direcao ainda que temerosa. O quão arrependida fiquei por tal ato, jamais poderei explicar com palavras. Saiba que, ao tocar o vidro da janela com minha testa, um rosto irreconhecivel e rodeado de trevas pareceu sugar-me para dentro de si, ou incluir-se para dentro de mim. A sensação fora horrível. O medo se apoderou de todos os meus sentidos e meus nervos ficaram arrepiados. Eu esperei por acordar daquele pesadelo, sem o mínimo de êxito. Ainda tomada pelo medo, tentei me mover desesperadamente, o que, ainda que tenha sido assustador pra mim, foi executado com uma certa imperfeição: eu me movia e ate sentia meus dedos, mas meu corpo continuava terrivelmente inerte ante meus comandos.
Eu sabia, de alguma forma, que aquele ser havia me seguido ate ali, esperava ansiosamente por mim e eu não tinha nenhuma saída a não ser esperar meu corpo responder. Me mantive assim pelo que pareceu uma eternidade, tentando inutilmente rezar e pedir a quem quer que fosse alguma forma de socorro. Em meio a minha exaustão, eis que uma pálida luz distante, no formato de uma lua crescente surge a uma linha reta `a minha visão. Tudo parece estar pálido a minha volta, seja por um ato de misericordia divina, seja por algum fato da minha imaginação. No meu peito, a angustia crescia na medida em que meu oxigenio simplesmente sofria uma certa dificuldade para chegar ate os meus pulmões. Com vontade de gritar ou chorar, eu rezei. Rezei com todas as forcas, sentindo meus braços formigarem e minha boca se mover, sem realmente estar acontecendo nenhuma das duas coisas. Então uma luz ofuscante brilhou em algum ligar próximo aos meus olhos como se um "flash" de uma camera fotográfica tivesse sido disparado e , nesse exato momento, a dádiva de despertar me foi concebida.
Enquanto passei pelo terrível transe, lembro-me de ter esperneado e gritado ate cansar, movendo-me teimosamente pela cama, mas ao acordar, percebi um tanto quanto decepcionada, que encontrava-me na mesma posição que tomei ao dormir. Procurei desesperadamente por meu celular, tentando descobrir a que altura da noite eu estava. E então uma surpresa: eram 5 horas e 37 minutos. O inicio do amanhecer. Lembro-me de ter adormecido por volta das 19 horas do dia anterior e depois de ter ouvido algumas reclamacoes de minha mãe. Lembro de ter acordado assustada no meio da noite e ter ingerido um pouco de brigadeiro de dentro da geladeira. E então, sem nem esperar, já era manha. Mantive-me acordada para conter o choque, mas minhas pálpebras, para minha surpresa, estavam mais pesadas do que nunca. Tentei lutar contra o sono, mas foi inútil. Adormeci novamente, mas dessa vez deixei que o véu pacifico do adormecer me envolvesse em sua tranquilidade, entregando-me de corpo e alma a um sono que outrora fora perturbado por meus pesadelos lúcidos e misteriosos.
Ao que parece, minha mente ainda esta perturbada por esse acontecimento que há muito não me ocorria. Por isso, resolvi finalmente pesquisar a respeito, deparando-me com relatos que indicam os mesmos sintomas. Ao que eu pude constatar, o fenómeno se trata de uma espécie de "acidente" chamado "Paralisia do sono". A pessoa acorda, mas o cérebro não, ocorrendo assim, uma consciência apenas mental do mundo, enquanto o corpo se mantém inerte, ainda não adaptado a ruptura do sonho. Segundo a wikipedia e mais uns oito links de respostas do google, simplesmente pode ocorrer alguns tipos de alucinacoes durante a paralisia. Embora essas teses tenham diminuído as minhas preocupacoes sobrenaturais, algo dentro de mim diz que ha mais do que isso em tudo o que me ocorrera durante a noite.
E por mais estranho que pareça, sinto que isso é apenas o começo.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Pequeno desabafo


Meu pai é um deus, minha mãe é uma bruxa, eu estudo em Hogwarts e passo as férias no Acampamento Meio-Sangue, as vezes entro no meu armário pra visitar Nárnia, depois caio num buraco pra tomar um chá com meu amigo chapeleiro maluco. Problemas, realidade?


-Fonte:http://percyanos.tumblr.com/post/4811257275/meu-pai-e-um-deus-minha-mae-e-uma-bruxa-eu-estudo-em

sábado, 2 de julho de 2011

Adeus

Assim como urge as mais belas estrelas no cair da noite, espreita timidamente o alvorecer da lividez da minha paixão - esvaecendo no triunfo da consequência legitima de um ato antes pensado.
Oh, formosa ignorância, foste tu a culpada por tamanho infortúnio. Infortúnio? Rio-me de ti, pois nas circunstancias cuja mais febril ironia consome tamanha definição, deveria denotar o paradoxo existente da mais absurda contestação: Eis um afortunado ato, uma bem aventurada alegria que me atribui. O adeus, oh o adeus.
A morte, devo dizer, não teve sobre o brilho pungente do teu olhar qualquer espécie de influencia mordaz ou apaziguante. Antes fosse. Ouso dizer que, se teus olhos fossem por si só almas vivas andantes nesse mundo de dementes, estariam agora exaltados de tamanha vivacidade, que eu, como uma verdadeira sentimentalista tola, haveria de exaltar-me na mais repleta alegria da mera lembrança da existência daquele belo par de seres deslumbrantes. Olhos que, mesmo na quimera lívida do anoitecer, desnorteiam-me a visão já desnorteada pelo esplendor de tua desprezível memória e deixam-me amortecida no calor do pulsar nostálgico.
Oh meu amor, adeus. Adeus agora e para sempre em um ato que não precisara ser dito, mas apenas presumido por minhas - ou seriam nossas? - decisões, que de súbito tomadas, tiraram-nos o privilegio da adversidade. Não tenho escolha e tu também não tens. Vai-te em paz, lutas por ti e esqueces que um dia tenha tido a ventura milagrosa de dar-me o prazer de dividir contigo a mesma atmosfera. Vai-te e, por minha memória, fazes questão de serdes feliz de um modo que jamais poderei compreender.
Escrevo-te, com os olhos secos e o peito palpitante neste colo que já não repousas mais, na esperança de que, onde quer que estejas, leia este ultimo bilhete que tão fervorosamente lhe escrevo.
Não voltarei a repetir para ti, oh querida criatura dos meus sonhos, o que já disse antes, quando nunca o deveria ter dito, essa derradeira palavra, mas a deixarei subentendida através da sensibilidade astuta que tens em ti - a mesma que contem em mim - da qual por tantas vezes nos pegamos utilizando-a para prevenir-nos.
Compreenda-me e soltas-te neste mundo que vais encontrar. Mas acima de tudo, não me esqueças. Por que onde quer que estiveres, eu estarei contigo e o ar que respiras por mim será invejado assim como o objeto que tocares por mim será odiado, visto que de tão poderoso privilegio tais circunstancias roubaram-me a enorme alegria de conte-lo, ainda que para estes teu toque ou tua existência pareça insignificante. Oh, não me esqueças, terrível usurpador de anjos, prometas a mim, tua mais desafortunada súdita, que jamais esqueceras dessa alma que te anseia ou desse coração que te deseja profundamente.
Oh sim, sim, seja feliz e espere-me, pois eu estarei sempre esperando por ti.
"Guarda estes versos que escrevi chorando como um alívio a minha saudade, como um dever do meu amor; e quando houver em ti um eco de saudade, beija estes versos que escrevi chorando".

- Machado de Assis