Translate

sábado, 27 de agosto de 2011

Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.


(Caio Abreu)


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Trabalho de Direito Penal – Questão 5




O PROBLEMA EXPOSTO NO DOCUMENTÁRIO É NÍTIDA CONSEQÜÊNCIA DAS LEIS PENAIS BRANDAS QUE TEMOS NO BRASIL. – Disserte sobre isso.




Como foi exposto no documentário, há muito mais a ser estudado no tráfico do que apenas o quão rigorosamente são impostas as leis. Como poderemos comparar tal analogia, quando se há tantos outros detalhes a se modificar? Começando pelo comportamento equívoco e corrupto de tantos policiais, assim como a evidente ignorância apresentada pelos próprios delinqüentes em relação às leis que estão sendo infringidas. Não se trata do "nível" de força que uma lei impõe, mas sim a capacidade que o brasileiro tem de cumprí-la. Não podemos simplesmente exigir uma realização mais assídua e pragmática da parte do povo comum, quando aqueles que são responsáveis por sua segurança demonstram fazer exatamente o contrário. Ou seja, a contradição de exigir respeito à constituição não nos é cabível, uma vez que nossas próprias autoridades se demonstram pouco inclinadas a aderir ao mesmo comportamento. Ouso dizer que o código penal brasileiro está apto a corrigir as mais inimagináveis mazelas que possam vir a corroborar o crescimento de nossa população, entretanto a força de tal jurisprudência será anulada enquanto a injustiça e a despreocupação de nossas autoridades forem maiores do que a vontade de mudar nossa falha e miserável realidade.









































segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Disco Quebrado

Como uma faixa arranhada que sempre toca a mesma musica, minha vida parece insistir em ir sempre na mesma direção. Não importa o quanto demore, o destino simplesmente da um jeitinho todo especial e meticuloso de voltar a estaca zero e rodopiar em volta de si mesmo. De novo e de novo. E mais uma vez.

Pessoas diferentes, erros iguais.

E a pergunta que me atormenta: Até quando?

sábado, 13 de agosto de 2011

Carma?



Uma teoria espiritual diz que, se erramos em algo ou não evoluímos na nossa vida passada em determinado assunto, trazemos suas consequências para a vida atual, na esperança oscilante de tentar consertar o tal "defeito".


Crenças a parte, pergunto-me: Ha verdade nisso? Ha algum sentido lógico/verídico nessa teoria? E se houver?


Cara, se houver, então eu já sei uma boa parte da resposta.


Simples. Desastrado. Incandescente.


Como palavras em neon que piscam sem parar, dizendo: "Eu sou o erro."


Será que eu fui prostituta assassina em alguma vida passada? Será que eu fui alguma espécie de "hannibal"? Será que fui um serial killer ou uma mafiosa promiscua?


Serio, não pode ser possível que não seja isso. Deve ser um carma que eu carrego ha milênios, algo que simplesmente me assombra por todas minhas possíveis e improváveis encarnações.


Romance.


Leio-os, observo-os e, por mais irônico que possa parecer, eu ate mesmo os crio.


Mas a coisa se torna bem diferente quando se torna real.


E esse é o meu problema. Romances são coisas bem distintas de mim.


E eu?


Bem, eu não nasci pra romances.






quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Meat is Murder - The Smiths

O gemido do bezerro poderia ser choro humano
Aproxima-se a faca gritante
Esta linda criatura deve morrer
Esta linda criatura deve morrer
Uma morte sem razão
E morte sem razão é assassinato
E a carne que você distraidamente frita
Não é suculenta, saborosa ou algo do tipo
É morte sem razão
E morte sem razão é assassinato

E o vitelo que você destrincha com um sorriso
É assassinato
E o peru que você fatia festivamente
É assassinato
Você sabe como os animais morrem?

Os aromas da cozinha não são familiares
Não são "acolhedores", "confortáveis" ou algo do tipo
E o sangue sendo frito e o profano odor
De assassinato
Não é "natural", "normal" ou algo do tipo
A carne que você animadamente frita
A carne em sua boca
É você saboreando o sabor
De assassinato
Não, não é outra coisa, é assassinato
Não, não é outra coisa, é assassinato

Oh... E quem ouve quando os animais choram?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um sopro de Vida

"Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam mais fazer sen­tido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.
[...]
Quando acabardes este livro chorai por mim um aleluia. Quando fechardes as últi­mas páginas deste malogrado e afoito e brincalhão li­vro de vida então esquecei-me. Que Deus vos abençoe então e este livro acaba bem. Para enfim eu ter re­pouso. Que a paz esteja entre nós, entre vós e entre mim. Estou caindo no discurso? Que me perdoem os fiéis do templo: eu escrevo e assim me livro de mim e posso então descansar."

- Clarice Lispector

A garota do copo de agua

- Sabe a garota do copo d'água?
- Sei.
- Se parece distante talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos prefere imaginar uma relação com alguém ausente a criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?

(O fabuloso destino de Amelie Poulain)


A que esta sempre alegre - Charles Baudelaire


Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria em cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa

Subir, tendo à mão um açoite,
Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!

Os Gatos - Charles Baudelaire

Apaixonados fervorosos e sábios solitários

Amam da mesma forma, ao chegar a maturidade

Gatos fortes e suaves, sua ultima felicidade,

Que como ele eles são friorentos e sedentários.


 

Esses amigos da volúpia e da ciência

Buscam o silencio e o horror dos comentários;

O Erebo os teria por seus fúnebres emissários

Se fizessem do orgulho subserviência


 

Adotam enquanto pensam nobre atitudes

Grandes esfinges no fundo sem virtudes

Dormindo num sonho que nunca termina;


 

Seus rins fecundos, de fagulhas mágicas,

De partículas de ouro e de areia fina,

Estrelam vagamente suas pupilas tragicas.