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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Azedume, vida

Pulsava o sangue na ferida aberta. E o aroma de azedume encontrou minhas narinas fétidas. Dentro de meus bolsos vazios, havia uma brisa desconcertante que inebriava meus dedos frios. Fechei os olhos e tentei lembrar do por que estar aqui. Por que eu estava? Não lembrava, não lembrava... E o suspirar angustiante que saiu de dentro de mim foi o suficiente para traduzir palavras que jamais falaria. E estava tão azeda, tão azeda por dentro. E aquele cheiro desconcertante que destruía meu corpo. E rebentava meus intestinos, destruía meus pulmões.

Mas não estava habilitada a fazer nada, nada... Éramos eu e mais milhares de pessoas dentro de garrafinhas de refrigerante, enfileiradas para o abate. Que abate? Viraríamos comida! Santa ingenuidade, já éramos comida!

E eu estava azeda... Quem sabe assim me colocariam fora e eu pudesse viver?

Acorrentada pelo gosto ruim da dor de se tornar apenas mais uma na linha de produção. E isso me salvaria. Sem pensar, agarrei-me o máximo possível ao meu gosto ruim, aos meus pensamentos ruins. A vida terminaria ali. E a libertação estava próxima. Mas não, não... Não podia ser tola. Pensar na liberdade me deixaria feliz, mas para ser livre eu precisava da miséria. Serei mísera então.

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