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quinta-feira, 27 de junho de 2013
Os Nós
Ele chega, fecha a porta, me abraça. No emaranhado dos nós dos meus neurônios enleados, eis que me encolho. Os braços dele me apertam, tiram de mim a liberdade de estar só. No celular, mensagens de ontem. Ele diz que me ama, eu envio de volta uma sequência infinita de "eu tambéms". Na cama, lençóis desarrumados. Ele respira no meu ouvido, como se me beijasse os tímpanos. Mas no emaranhado de nós dos meus nervos enleados, eis que me reprimo. A respiração dele me tira o silêncio, a liberdade de dormir em paz. Na geladeira, alguns sushis de ontem. Ele fez especialmente pra mim, eu agradeço mas não como. É o amor tirando sarro do meu desejo envelhecido. Ele acorda, as mãos famintas. Não faz isso, amor. Por que não? Não faz isso, quero dormir. No emaranhado dos nós dos meus hormônios enleados, algo arde. Lá depois da milésima parada depois que Judas perdeu as meias, alguma brasa é lembrada. Quase como um furor. Quase como uma vontade. Quase como uma paixão violenta, gritando por prazer. Para com isso, amor. Me deixa dormir. Ele vira de costas, adormece frustrado. Eu ponho os fones de ouvido, não adormeço, agitada. No emaranhado de nós dos meus pensamentos enleados, eis que me preocupo. No lado de for da janela tem um mundo inteiro de problemas não resolvidos. Milhares de pessoas que giram. Milhares de animais que morrem. Milhares de dólares engrandecendo a economia. O dia de ontem foi pesado, preciso adormecer. Ao meu lado, o homem que até ontem era o amor da minha vida. Na minha frente, um caminho cheio de pedras, questões, choros, amores. Não durmo. Há algo que precisa ser feito. Não penso. Meus nós se entrelaçam, um a um. Ele não percebe, me ama mesmo dormindo. Eu não percebo, me esvaio, mesmo acordada. No outro dia, penso que deve ser assim que um copo cheio de água se sente quando é esvaziado, lentamente.
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