Eu vi o sol nascer ao seu lado, enquanto as minhas certezas migravam para o oriente junto com a escuridão. A respiração que saia do seu nariz era transformada em vapor e voava pra junto da minha. Uma união bonita de se ver, aquela que aconteceu com as nossas cotas de oxigênio. Mas você não percebia. Você olhava pra frente, encantado com o dia que amanhecia. E eu olhava pra você, encantada com o encantamento que você sentia. Amanhã eu te esqueço de novo, e a luta contra tudo isso recomeça. Sim eu também acho estranho, eu queria ter dito, mas enquanto o dia não amanhecer, me deixa te amar só mais um pouco. Enquanto me obrigo a esquecer que ainda te amo.
Foi a primeira vez em muito tempo que eu não lutei contra você. Deixei que meus sentimentos me levassem como o fluxo da maré, de uma forma serena e tranquila. Deixei de lado todos aqueles meses de conflitos internos e externos, todos aqueles anos de ódio que jurei. De repente, todas aquelas minhas manias de me prender no ressentimento se foram. Minhas promessas morriam de acordo com o meu amor que, na hora, ressurgia das cinzas. E eu o senti em todo o esplendor. Eu te senti com todo o seu esplendor. Eu deixei que você pegasse na minha mão e me desse certa segurança enquanto caminhávamos nos becos escuros de madrugada. Você, como antigamente, me fez esquecer de todos os motivos que eu defendia com tanto ardor pra me manter distante. Naquela noite, eu me apaixonei de novo, mesmo sem querer.
Honestamente, eu não sei o que vi nesses teus olhos fugidios ou nessa tua risada forçada. Eu não sei por que, depois de todo esse tempo, eu voltei logo pro único cara que eu prometi que nunca voltaria. Nunca vou entender por que vivo repetindo meus erros ou sentindo saudades que já não existem. E, de novo, você vira poesia. Mesmo que a nossa prosa já tenha terminado, você continua virando poesia. Você me olhou surpreso quando eu disse, pela milésima vez, que te amava. Você me segurou mais firme no braço quando eu, na minha tontura alcoolica, quase caí no meio da festa escura. Você me salvou de ser ridícula e me condenou a ser romântica, errônea, patética. Você, por todos esses meses, já é o morto-vivo do meu romance predileto. Você morre por três meses e levanta por dois dias. Eu te esqueço por seis meses e te amo por uma noite. E, ainda assim, continua virando poesia.
Você achou graça da minha saudade quando eu te implorei permanência fixa na minha vida. Você disse que ficaria e eu te beijei, por que vi sinceridade nesses olhos fugidios. Eu nunca vou entender, de verdade, por que te amo tanto. Nunca vou entender por que essas coisas acontecem na vida da gente. Por que você caiu como um raio abrupto na minha vida e me salvou enquanto fazia o papel de anjo. E eu amava achar que você era o meu anjo. E eu continuei amando, quando percebi que também era um dos meus demônios. Você foi o bálsamo e o veneno. Foi a vida e a morte. Foi o amor e o ódio. Você foi tudo, menos indiferença. Você é tudo e ao mesmo tempo é nada.
Eu vi o sol nascer ao seu lado. E você achou graça quando eu disse que no dia seguinte pareceria um sonho. Mas é que agora, parece. A verdade, é que eu não suportei essa coisa de fixar a sua presença. Não parecia certo. Eu escrevi um livro sobre você. Eu escrevi um capitulo inteiro sobre a sua petulância. E, naquela noite, eu escrevi um conto sobre o quanto eu te amava. Mas, hoje, você virou prosa, só pra não ser poesia. Por que prosas não tem rimas, nem enrolações, nem felicidade, nem filosofia, nem amor, nem nada. Prosa é o texto seco que o escritor exprime o epílogo de uma constatação. E você, mais do que um prólogo, agora também é um epílogo. Um epílogo sobre aquilo que eu pensei que seria e agora não é. Eu não suportei saber que você ficaria. Você me ofereceu permanência quando já não havia nada fixado. Não havia base, nem cimento, nem colas, nem sentimento, nem nada que nos unisse. Apenas um amor surrado e um livro grosso cheio de contos e poesias que eu escrevi sobre você. E, talvez, você seja minha obsessão. E nada disso é saudável. Demônio, obsessão, droga.
Mas você, e admito, eu também, nunca vamos entender ao certo o que aconteceu. Por que tinha tanto sentimento e tanto erro? Tanto amor e tanto ódio? Tanto perdão e tanta mágoa? Tanto abraço e tanta ofensa? Eu nunca vou entender. Mas não é preciso ser muito inteligente pra perceber que é autodestrutivo. Então, só dessa vez, pra ficar tudo justo, quem fechou o livro fui eu. Joguei toda essa papelada embaixo do tapete e saí correndo pra não ver a tragédia recomeçar. Eu achei que, talvez, você quisesse entender. Mas sei que não vai, por que eu também não entendo.
Eu amei você como um conto de amor do Mário Quintana. Todo fofo e cheio de borboletas. E agora esqueço esse amor com uma prosa ao estilo eu, todo cheio de erros e inexperiência. Mas, no final, foi assim que eu e você fomos felizes para sempre. Cada um para o seu lado.
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