As imagens que caem soltas na nossa memória podem ser comparadas com as gotas da chuva que, independente do nosso humor, insistem em cair de forma lenta e descompromissada, quase como se assobiassem em uníssono contra a nossa vontade. Lembranças ruins são gotas geladas de uma chuva acida que não pode ser lambida ou sequer adorada. Lembranças boas são como a glória que o céu derrama no verão acima dos nossos corpos que queimam acima dos trinta graus. Em todos os casos, não estamos preparados para o frescor. Ainda que pacífico. Ainda que doído, que o abrupto som do que não é desejado pode nos causar.
Minhas veias estão abertas ao futuro. Não me sinto mais dissipada ou esquartejada. Não me sinto mais como se estivesse perdida ou fora de mim. Não me sinto como uma estranha, agora posso dizer que me conheço. Você foi embora como se os sentimentos fossem obstáculos que podemos simplesmente superar. Como uma queda da qual você levanta e segue em frente sem olhar para trás. Não, isso não se aplica a pratica. Não, não me importa quantas vezes você diga que sim, todos nós sabemos que esquecer só funciona na teoria. E Alzheimer que me perdoe, mas a alma nunca vai conseguir apagar o que a mente insiste em destruir. Não podemos fazer de conta que não sabemos, não podemos simplesmente não olhar. Mas fazemos isso.
Eu, você, os outros.
Não deveríamos ser pessoas frágeis com um coração pesado demais para ser carregado. Mas somos. O mundo está cheio de super-heróis, super-amantes, super-pais, super-namorados, super-filhos, super-amigos. Estamos lotados, afogados em palavras vazias. Somos jogados em espiral para dentro de um buraco negro de esquizofrenia. A claridade anêmica que não ilumina a vastidão do escuro dos ignorantes. E que podemos fazer? Não podemos. Mas fazemos.
Eu.
Você.
Os outros.
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