Eu queria poder dizer que o texto a seguir se trata sobre alguma grande piada. Eu realmente gostaria de alegar que tudo que eu escreverei será obra de uma pequena e ilustre mentira. Ah, como eu queria. Mas as vezes, as coisas não são como a gente quer. Eu queria também, que o meu computador voltasse a vida pra que eu pudesse salvar esse texto sem postar em um site publico, onde muitas (quem?) pessoas poderão ler.
Eu não quero parecer ingrata ou ambiciosa, mas a verdade e que eu sinto falta. Sinto falta de coisas que nunca tive ou de pessoas que não conheci. Eu sinto falta de coisas que já aconteceram, de pessoas que já me conheceram, de algo que eu li ou vi. Simplesmente sinto falta.
Aristóteles disse: "A coisa mais difícil de ser concebida pelo homem, é o ato de destruir seus velhos hábitos". Oh sim, ele estava com toda a razão.
Quando eu paro e penso, me enxergo numa bolha gigante. Parece que eu estou plastificada, segura, dentro de um mundo distante dos outros. Sinto como se a frágil espessura da bolha estivesse se aproximando cada vez mais rapidamente daquela cruel agulha que me espera no fim da montanha. A montanha que eu tanto quis subir. Basta o mínimo empurrãozinho para que eu caia e ela se desfaça em pedacinhos.
E se eu acordar, talvez as coisas voltem ao normal. Mas dai eu me pergunto: O que seria "Voltar ao normal"? Seria voltar aquela antiga vida ou continuar na atual? Será que eu sentiria falta da atual, caso voltasse e modificasse a antiga? E se eu ficar na atual e modifica-la, ainda irei me perguntar sobre a suposta modificação da antiga? E se...Não. Suposições jamais saciarão minhas perguntas. Apenas irão agravar ainda mais a sede de uma sabedoria impossível, utópica.
Então por que, meu bom Deus, eu perco tanto tempo pensando nisso? Envolta numa nevoa gigante de duvidas, receios e suposições, eu tento encontrar a melhor forma de ser o agora e assassinar o antes. Melhor do que isso, esquartejar o " e se " e tentar sobreviver aquele avalanche de questões não respondidas.
Hoje, no dia da piada, eu estou com uma seriedade fora do normal para meu humor. Sem mentiras, a verdade parece palpitar a cada batida do meu coração, confusa e um tanto que insegura enquanto treme nas minhas mentiras. Não que eu seja mentirosa, longe disso. Ao menos não para os outros. Eu gosto de acreditar naquilo que me parece mais aceitável de ser acreditado. Pelo menos em relação a alguns assuntos. Assim como uma criança se faz acreditar que o remédio com gosto ruim sempre será o melhor para sua saúde, eu me faço acreditar que o caminho supostamente correto é o único pelo qual eu devo seguir. Honestamente, eu já nem me importo mais se for chamada de hipócrita, por que talvez eu seja definida exatamente por essa palavra. Hipócrita.
Um pouco de auto-hipocrisia para terminar o dia, acompanhada de um copo de refrigerante sem gás e de uma iluminação exagerada da tela do computador.
Os olhos ardendo em chamas de cansaço, os dedos febris e enérgicos. O cérebro confuso, imutável. É nesse estado que eu descrevo minha hipocrisia. É assim que eu fecho o meu dia.
O dia da piada?
Não. O dia da mentira.
E não ha nada de engraçado nisso.
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