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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Devaneios


As árvores dançavam escondidas na escuridão. Eu podia vê-las claramente, sentindo o aroma de grama e orvalho, inalando a forte ventania que mantinha minha temperatura corporal a baixo dos 36 graus aconselháveis. Algumas mexas do meu cabelo atrapalhavam a minha visão, formando uma perfeita sincronia com o pesado vestido escuro que eu estava vestindo. A noite parecia tão... tão bela! Perfeita, utópica. Algumas nuvens cobriam o lado direito da lua cheia, deixando uma boa parte do céu descoberto para assim revelar as estrelas. Oh, tantas estrelas! Todas tão brilhantemente ofuscantes que tornara-se impossível manter a respiração de acordo com as batidas do meu coração. Tum. Tum. Tum. O oxigénio mal chegava e já tinha de se retirar rapidamente para oferecer ao meu cérebro alguma porção de combustível.

E então algo estranho. Um som. O som das árvores? Não... não consegui identificar o som... Obviamente se tratava do som do vento, mas de nada tinha a ver com árvores...

Então eu avistei, la adiante, em meio a colinas espessas e árvores rígidas, um castelo. Arquitetura gótica, portões de ferro, uma cruz na torre mais alta e uma aparência digna dos contos de Stephan King.

Eu me movi, lentamente, sentindo cada passo na grama umida, inalando o ar gélido da noite que chegava ate mim através da brisa de um oceano de nome desconhecido, localizado em um continente desconhecido. Um lugar sem nome, sem mapa. Mas eu o conhecia, lembrava dele, como se fizesse parte de mim.

O som paralisou meus pensamentos de novo. O som... O estranho som de... Som de maquinas? Não. Som de movimento de maquinas... Som de vozes, distantes... Um dialogo que eu conhecia de algum lugar... Mas de que lugar? Esse era o meu lugar. Aqui, a noite, perdida em um enorme e lindo terreno, com vista para o oceano e um castelo sombrio... Um desenho do que eu sou, como se eu mesma o tivesse construído...

Mas o som vinha de novo, e de novo. A voz... A voz... O sotaque inglês. Moderno demais para estar adequado a paisagem na qual eu me encontrava.

O som...da maquina e das vozes... Agora se unia ao som de uma porta se abrindo...

Uma luz acesa...

O lugar clareou. Eu pude ver o castelo por uma fracao de segundo. Eu o vi. Eu o admirei e eu iria correr pra ele...

Se não fosse o fato de que uma criança de 9 anos estava me encarando.

De repente, com um choque de calor e decepção, eu reconheci o barulho: Meu ventilador, minha televisão, minha porta, minha lâmpada e minha sobrinha.

E como um castigo cruel, eu havia sido expulsa do meu mundo, porque, injustamente, ele estava predestinado a estar apenas nos meus sonhos.




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