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sábado, 4 de dezembro de 2010

A carta


Querido Peter, escrevo-te essa carta, visando desabafar sobre algo que eu tenho certeza que tu entenderia: Eu nunca quis crescer.

Sabe, durante toda minha vida, abominei pessoas sérias, homens com terno e gravata, mulheres com a cara fechada, idosos frustrados, pastas de couro recheadas de papéis de escritório, trabalho chato, promiscuidade adulta, hipocrisia, adultério, comodismo, indiferença. Eu prometia a mim mesma, todas as noites, de que jamais me tornaria uma adulta, por não ter todas essas terríveis características que isso despertaria em mim. Mas, infelizmente, esse processo é inevitável - sempre foi.

Todos esses adultos que eu tanto repugnava, foram crianças não perturbadoras, assim como eu era até pouco tempo atrás. Todos eles sonhavam com um futuro diferente do adiquirido.

E agora eu me pergunto: Onde erramos?
Será, que assim como eu, eles também temeram a pessoa em que estavam se tornando? Será que se importaram? Tiveram escolha? Sofreram?
Talvez não. Talvez não tenham se quer percebido que mudaram, apenas foram se levando sem refletir sobre isso.

E isso é normal.

Apenas normal.

Então por que "normal" soa tão irritante pra mim? Não quero ser normal, porque os ditos "normais", na verdade, são todos anormais. Estão doentes.
E eu não quero adoecer também.

Oh, meu amigo, tenho tanto medo de tornar-me adepta da rotina daqueles que tanto critiquei! Queria não perder o encanto que há muito já perdi. Queria poder voltar a ter um terço dos pensamentos positivistas que costumava ter há algum tempo atrás.
Onde está você, querido Peter Pan, para vir me buscar e me tirar desse mundo cheio de pessoas malucas? Mas venha rápido, porque eu temo que não consiga suportar por muito tempo.

Esperarei ansiosamente por sua resposta.

Com carinho, Charlotte Leberton.

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