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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De bobeira...

As vezes, quando eu to de saco cheio de tudo, gosto de ficar dando uma olhada nos livros ja lidos por mim. E eu fico ali, por horas, apenas me lembrando de como me sentia quando lia a história.
E bom, esses dias eu resolvi reler algumas partes do "Morro dos ventos uivantes" e consegui me lembrar do porquê de amar tanto essa história. Talvez seja o clima mórbido ou o humor sádico dos personagens. Principalmente o humor da Cathy. Por Deus, ela é um monstro egoísta e estúpido que desiste do Heatchcliff por causa de motivos idiotas que a levam a ter uma vida "mais fácil"! E o mais lindo, é que apesar de toda a maldade e a loucura, ela tem sentimentos.

Ela sofre.

Talvez isso que mais me encante no livro:todos os problemas psicológicos que ficam subentendidos no comportamento de cada personagem.

Então, devido a isso, vou postar o trecho lindo que eu li - e que, na minha humilde opinião, é a melhor coisa que a Cathy fala em todas as 428 páginas do livro.

"[...]Catherine tinha, naquela noite, um aspecto sombrio e nada comum, que
me fazia temer e profetizar algo terrível. Ficou irritada comigo, mas não
insistiu. Aparentemente mudando de assunto, continuou:
— Se eu estivesse no céu, Nelly, sentir-me-ia muito mal.
— É porque você não o merece — respondi. — Todos os pecadores se
sentiriam mal no céu.
— Mas não é por isso. Uma vez sonhei que estava lá.
— Já lhe disse que não quero saber dos seus sonhos, Srta. Catherine!
Vou para a cama — ameacei.

Ela riu e segurou-me, pois fiz menção de me levantar.

— Não é nada — disse ela. — Só lhe ia contar que para mim não
parecia ser o céu e que eu chorava desesperadamente, querendo voltar para a
terra. Os anjos ficaram tão zangados comigo, que me jogaram bem em cima
do Morro dos Ventos Uivantes, onde eu acordei soluçando de alegria. Isso
me servirá para explicar o meu segredo. Não tenho mais razão para casar com
Edgar Linton do que para estar no céu e, se esse homem perverso que é o
meu irmão não tivesse feito Heathcliff descer tanto, eu nem teria pensado
nisso. Mas agora eu me degradaria se casasse com Heathcliff, por isso ele
nunca há de saber o quanto o amo: e não porque ele seja belo, Nelly, mas por
ele ser mais eu do que eu própria. Não sei de que são feitas as nossas almas,
mas elas são iguais; e a de Linton é tão diferente da minha quanto um raio de
lua é diferente de um relâmpago, ou o fogo da geada.
[...]- Não sei expressar-me bem; mas, sem dúvida, você e todo o mundo têm noção de que há ou deverá haver uma existência para além de nós. Qual seria o sentido de eu ter sido criada, se estivesse contida apenas em mim mesma? Os grandes desgostos que tive foram os desgostos de Heathcliff, e eu senti cada um deles desde o início: o que me faz viver é ele. Se tudo o mais acabasse e ele permanecesse, eu continuaria a existir; e, se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, eu não me sentiria mais parte do universo. Meu amor por Linton é como a folhagem de um bosque: o tempo o transformará, tenho a certeza, da mesma forma que o inverno transforma o arvoredo. O meu amor por Heathcliff lembra as rochas eternas: proporciona uma alegria pouco visível, mas é necessário. Nelly, eu sou Heathcliff! Ele está sempre, mas sempre, no meu pensamento; não como uma fonte de satisfação, que eu também não sou para mim mesma, mas como eu própria. Por isso, não torne a falar da nossa separação:ela é impossível e. . .

Fez uma pausa e escondeu o rosto nas pregas do meu vestido, mas eu a
afastei. Não tinha paciência com a sua falta de juízo!"



Sério, como alguém pôde ter escrito algo tão perfeito?

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