Translate

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Fogo e Jabuticaba


 

Tem um grande barril dentro de mim. La onde ninguém consegue enxergar, nem com raio-x sabe? Em um lugar muito, muito escuro e distante pra ser descoberto por alguém, mesmo que seja por mim. Nesse barril tem um pó preto, como café. E tem pó por todos os lados. Esse pó nunca se acaba. Eu posso sentir isso, porque o barril é pesado demais. Algo tão pesado assim só pode conter uma grande porção de algo dentro. E por isso eu afirmo, com toda a certeza do mundo que isso é um pó. Preto. Tão preto quanto o universo sem estrelas. Tão negro quanto uma jabuticaba. É, uma jabuticaba. Esse pó preto é como pó de jabuticaba. Então, dentro desse barril, tem muito pó de jabuticaba. Eu não sei, primeiramente, quando me dei conta disso. Talvez, isso já existisse dentro de mim desde o momento em que nasci. Não, desde o momento em que fui criada.

Quando algum cara muito, muito poderoso olhou para uma jabuticaba e pensou: "Hoje eu vou criar uma menina que terá pó de jabuticaba dentro de um barril que vai ficar dentro dela. Ela vai nascer com isso, e talvez um dia, aprenda a usa-lo." E então, eu fui criada. Dai, aconteceu toda aquela palhaçada de corrida de espermatozoides, e aquele, que tinha um barril de jabuticabas, venceu a tal corrida. Eu acabei nascendo, alguns meses depois. E eu chorava. Chorava não por que meus olhos ardiam. Mas por que o barril era muito grande. Grande mesmo. Muito maior do que eu. E doía, por que ninguém podia entender, ninguém me ouvia. Todos diziam: "Como ela é pequena!". Tolos. Eu tinha um barril dentro de mim e vocês não sabiam. O tempo se passou, e eu sei que, assim que comecei a caminhar e entender o mundo, esse barril já fazia parte de mim. Eu só não sabia que ele estava ali.

Por muitas vezes, eu senti uma explosão La dentro. La naquele lugar que ninguém sabe chegar, que ninguém nunca viu. E quando ele explodia, eu fazia coisas que ninguém compreendia. Eu falava sozinha. Não com fantasmas ou bonecas. Com personagens. Quando esse barril explodia, eu ficava horas pensando em uma historia pra mim mesma. Eu tinha muitas vidas diferentes pra uma menina de 5 anos.

E mesmo assim, 12 anos depois, algumas pessoas ainda não entendem isso. Eu também não entendo. Mas hoje, eu sei que aquele barril ta aqui dentro. E quando ele explode, não são jabuticabas escorrendo por todos os lados.

Não.

São palavras. São mundos e criaturas, que escorrem diretamente para os meus dedos e se formam em textos interminaveis. Essa explosão, se chama inspiração e esse barril se chama paixão. E mesmo que as vezes eu me esqueça de todo esse peso, ele continua aqui, explodindo na minha imaginação e corroendo a minha mente.

PUM

Como vocês podem ver, explodiu.

De novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário