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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Viva la Revolución - Porto Alegre, Parte I



Eis que o proletariado juntou seus cartazes, calçou suas havaianas, levou o mate na mochila e foi tacar fogo na prefeitura de uma cidade - até muito pouco tempo atrás - bem acomodada.

Eis que o dia em que a revolta do povo fora maior do que a manipulação das massas chegou, e a Oswaldo-Aranha foi tomada pelos passos gloriosos dos descendentes de uma nação banhada por sangue e tradições. Uma nação que mantém como fonte de orgulho à guerra dos farrapos.

O sangue guerreiro ainda corre nas veias do gaúcho urbano que emoldura a cena moderna do Rio Grande do Sul. Dessa vez, podemos ver as prendas lutando lado a lado com seus direitos adquiridos. As filhas de Anita Garibaldi, hoje, protestam nas ruas em busca dos direitos do povo. As flores e chitas foram substituídas por dreads e jeans. O coque ganhou o glamour arrojado da luta: As prendas do século XXI se descabelam em prol de seus conterrâneos.

Já os rapazes, filhos de Bento Gonçalves, sustentam, sob os músculos de academia, cérebros muito bem nutridos por conhecimento e desenvoltura. Ambos os sexos abraçando juntos, a morte da ignorância juvenil, o alvorecer de uma nova era de inconformados. Desde o século XIX, não se via tamanha força nas ruas sulistas. A herança genética de décadas de luta, finalmente se faz visível: O povo renovou suas forças.

A causa?

O aumento injusto da tarifa cobrada pelo acesso ao transporte público.

É isso. Apenas um impasse de um governo pouco interessado no direito material do município. Uma guerra de valores e normas e erros orçamentários. Impostos e mais impostos sob as cabeças de trabalhadores e estudantes que gastam, aproximadamente, trinta por cento de seus salários em prol do “suposto” direito de ir e vir.

E é aí que a minha passividade acaba.

No momento em que eu, até então muito desinformada da situação toda, simplesmente fiquei chocada e orgulhosa da visão que tive em plena Oswaldo-Aranha, às exatas dezenove horas do dia primeiro de abril (irônico ou não) de 2013.  Depois de uma boa hora esperando pelo meu ônibus – que depois descobri que ficou trancado propositalmente no centro graças à força democrática dos meus heróis – eis que a passeata se findava. Nenhum ônibus atravessava a rua iluminada. Nem mesmo táxis ou vãs. Pois acreditem que até os motoristas autônomos apoiam a causa de corpo e alma. E, enquanto me perguntava por que raios apenas o T7 existia naquele dia – claro, por que o T7 é uma linha que não precisa passar pelo centro, onde as manifestações ocorreram e, portanto, teve livre acesso à parada que eu me encontrava – dezenas de pessoas começaram a surgir no horizonte nebuloso da UFRGS.

Sim, aquela rótula que existe antes de chegar no centro, sabem? Eles surgiram dali. Meus heróis em suas fardas casuais. Com a exceção de alguns anarquistas descarados que acham que destruição de patrimônio vai levar a alguma coisa além de guerras ( Fala sério, quem quer guerra nesse país?) e violência (E quem disse que a violência vai resolver alguma coisa? Não lembro de ter visto paz ou alegria depois do ataque terrorista às torres gêmeas. Me desculpem os radicais, mas o resultado nulo e pessimista me parece bem óbvio).

Surgiam os estudantes. Os trabalhadores. O tio do armazém, que vende balas de dia e se mata estudando empreendedorismo de noite pra sustentar a família que só cresce e precisa ter pão em casa. O motorista de táxi que precisa dar algumas voltas por lugares não muito seguros, pra garantir que o aluguel do apartamento recém comprado seja pago em dia. A estagiária que não pode almoçar direito por que precisa economizar pra passagem.

Surgiram todos os meus heróis do cotidiano, com suas saias compridas, dreads descolados e mochilas personalizadas. Surgiram os donos da minha inspiração de hoje, os donos do mundo de amanhã, o resultado da educação do ontem. A geração dois mil não é mais movida a coca-cola, agora nós temos o Red Bull, caros amigos. Agora, nós estamos com todo o gás. Chegou o momento do povo erguer sua voz e mostrar para esse governo repleto de ervas daninhas corruptas, o significado da palavra democracia.

Surgiram, em câmera lenta, como guerreiros da paz, em um horizonte pacífico, com suas rosas e pinturas e cartazes desaforados. Naquela hora pude perceber a beleza do inconformismo, da união, da justiça na vida em si. Senti em mim uma energia tão forte, um impulso tão brusco que tive de me segurar para não sair correndo e fazer parte da revolta. Sério, não posso ver um protesto que já quero me infiltrar e gritar junto. Eu gosto da bagunça, da baderna, do que incomoda o cara conformista. Gosto de lutar. E sei que essa luta apenas começou. E, como eu ainda não pude fazer parte dela, essa é apenas a primeira parte. Amanhã, vai ser maior. E dessa vez, eu vou estar lá. Sentindo na pele o que é um protesto justo, o que é sair à rua e lutar pelos meus direitos.

O importante, guerreiros, não é o resultado. É a luta.

Vejo vocês na prefeitura de Porto Alegre, às 18 horas.

Pra quem não mora aqui, nos vemos em breve, com um texto chamado “Parte II”.

Soon.

 

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