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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Viva la Revolución – Porto Alegre, Parte II

Em um planeta onde o conformismo e a preguiça levaram embora heróis de guerra que dificilmente serão substituídos, como Che Guevara ou Joana D'arc, eis que, das cinzas de uma democracia hipócrita e preconceituosa, surgem os guerreiros do século XXI para mudar os meus velhos conceitos.

Não vou chegar aqui e repetir tudo o que eu tinha escrito no último texto mas, só para recapitular, saibam que os porto alegrenses me enchem de orgulho por sua garra, por sua união, por sua força de vontade. Eu, como porto alegrense apaixonada e patriota (não que não ache o patriotismo uma espécie de fanatismo ideológico que pode ser levado às ultimas e piores consequências....) tive de levar minha imponente presença até a prefeitura e exercer todos os meus poderes de democrata ativa.

É, isso mesmo. Eu, a democrata ativa.

E não é que aquele aguaceiro brabo de quinta-feira não impediu que cerca de duas mil pessoas enchessem as ruas do centro com gritos e atos de inconformismo? Pois saibam, meus amigos, que até a arquitetura imponente da minha Porto Alegre fora violada por aquele bando de anarquistas visionários. Claro que se eu estivesse em situação mais favorável (com galochas e uma capa de chuva bem grande e forte e resistente) teria me unido a eles, mas como eu estava lá, com meus humildes vans sofrendo todas as dores e alegrias de serem feitos de camurça, me mantive segura em terreno plano. Não sem antes ficar extasiada e louca para subir junto e xingar aos Deuses Nórdicos por tirarem de mim o dom do equilíbrio.

Claro, a tempestade INCESSANTE daquele fim de tarde não impediu que bradássemos em prol de um direito violado. Não impediu que pulássemos, dançássemos, pichássemos (veja bem, eu não pichei nada, mas pensemos na coletividade) e vandalizássemos (lembra da história da coletividade? Er) patrimônios públicos. Vou te dizer, com essa minha vasta falta de experiência no mundo, nunca presenciei um pichador em ação. E também nunca cheguei perto de fumadores de maconha. Então bem, (sim, tinham pichadores e maconheiros bradando por uma Porto Alegre mais justa enquanto dezenas de policiais não moviam um mísero dedo para captura-los em flagrante) foi um pouco impactante. Um pouco selvagem também, pra mim, que sou virgem nessas coisas de rebeldia. Ou era. Perdi minha virgindade naquele dia. Em meio à chuva, ao barro, à maconha e ao cheiro forte de Collorgin (acho que é esse o nome do spray que eles usam pra pichação, corrijam-me os entendedores).

Não importava o credo, a cor, a classe social, o partido político. Era uma coisa bonita de se ver, aquela união de corpos massificados em um só. Aquela sensação de "estou movendo minha bunda por algo útil" tomava conta dos meus nervos, veias e tendões. Aquela paz de estar dando minha parcela de comparecimento a um povo demasiadamente explorado pela pseudo liberdade de um sistema baseado na ascensão de poucos, em breve transformou meu cansaço em revitalização. Não importava a agua. Não importava se meu pé era de madeira. Tá, importava sim. Importava tanto que tive de abandonar a batalha antes que tivesse de abandonar a própria perna. Mas a questão não é essa. Devemos nos ater ao decorrer dos fatos, aos resultados. Devemos nos ater à força de milhares de pessoas, independente de suas índoles e condutas, que, por bradarem ou picharem ou vandalizarem uma cidade corroborada por um poderio abstrato (leia-se: governo), salvaram os bolsos da maioria da população de serem, cada vez mais esvaziados.

É isso mesmo que vocês estão pensando.

Esse bando de vândalos, anarquistas sem cérebro, burgueses entediados e até mesmo estudantes alienados, conseguiram.

Nós conseguimos.

O preço da passagem foi, de terríveis três reais e cinco centavos, para nem-tão-terríveis-assim dois reais e oitenta e cinco centavos. É isso aí galera, quero ouvir aplausos e urros de alegria. Quero ouvir um "Iêêê" e agora um "Iôô".

Se tem os contras? Claro, óbvio que tem. O que não faltou nesses protestos, foram partidos políticos tentando bancar os "amiguinhos" do povo, os guerreiros de luz da mudança democrática gaúcha, com suas bandeiras balançando nos ventos que já não andam lá tão favoráveis ao nosso exímio Fortunatti.

Não faltou também uma maneira de a prefeitura driblar essa vitória com uma maneira bem sutil de pagarmos por nossos brados.

Eis que a frota de ônibus que saem das garagens de Porto Alegre, diminui consideravelmente de número, deixando-nos, pobre proletariado, com nada mais e nada menos do que uma tranqueira dos infernos para F#%% com a nossa vida às seis da tarde. O inferno urbano que uma cidade tão "preparada para a Copa" deveria ter superado há muito tempo. Que transito é esse meu Deus? Tá, eu moro longe de tudo quanto é lugar existente nesse cubículo de município. Mas até mesmo o meu ônibus (um dos mais demorados de todos os tempos) já teve seu tempo de gloria, de velocidade, de atendimento às minhas expectativas que sempre anseiam pela minha casa.

Que que é isso, minha gente?

Esse é o nosso Estado, sempre tão preocupado em nos manter satisfeitos e sorridentes. Sempre tão preocupado em honrar uma paulada de artigos que só falam baboseiras não materializadas naquela tal de Constituição Federal de 1988. Aliás, Constituição essa que é reconhecida como Lei Suprema (daquele tipinho brabo que precisa ser seguido à risca). Imagina se fosse uma Constituição flexível e pouco importante? Estaríamos vivendo na Anarquia em sua forma nua e crua.

Como dito anteriormente, é preferível a derrota de uma batalha do que o vencimento sedentário da guerra. Estamos lutando, meus caros. Estamos chegando lá. Devagar, mas estamos. E isso já é um ótimo começo.

Eu acho.

Ou melhor: Eu espero.


 

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