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terça-feira, 12 de julho de 2011

Paralisada

Fora em uma madrugada agradável de inverno. O mês era Julho. Lembro-me nitidamente da sensação em que pousara meu mais recente e assustador momento de desespero. De alguma forma ainda não compreendida por mim, eu estava acordada enquanto dormia. Demorei para perceber que já havia passado por isso antes, mas não quer dizer que a experiência traga o costume. Eu não estou acostumada a isso. E honestamente, temo nunca achar tal ato costumeiro ou comum. Oh sim, sim, lembro-me com perfeita exatidao de todos os segundos. Lembro da magnifica sala de estar na qual me encontrava, acompanhada de uma mulher bonita e desconhecida que, deitada em um diva vermelho, olhava-me curiosa. Eu, um tanto perdida, olhei para a janela que ficava a alguns metros de mim. Era noite, estava chovendo muito, mas não fazia frio. Estranhamente estávamos em uma noite de verão, pois a mulher usava um vestido e eu estava com uma blusa sem mangas. Um atracão irresistível entre mim e a janela pareceu atravessar qualquer duvida que eu pudesse ter e, sem pensar, me movi em sua direcao ainda que temerosa. O quão arrependida fiquei por tal ato, jamais poderei explicar com palavras. Saiba que, ao tocar o vidro da janela com minha testa, um rosto irreconhecivel e rodeado de trevas pareceu sugar-me para dentro de si, ou incluir-se para dentro de mim. A sensação fora horrível. O medo se apoderou de todos os meus sentidos e meus nervos ficaram arrepiados. Eu esperei por acordar daquele pesadelo, sem o mínimo de êxito. Ainda tomada pelo medo, tentei me mover desesperadamente, o que, ainda que tenha sido assustador pra mim, foi executado com uma certa imperfeição: eu me movia e ate sentia meus dedos, mas meu corpo continuava terrivelmente inerte ante meus comandos.
Eu sabia, de alguma forma, que aquele ser havia me seguido ate ali, esperava ansiosamente por mim e eu não tinha nenhuma saída a não ser esperar meu corpo responder. Me mantive assim pelo que pareceu uma eternidade, tentando inutilmente rezar e pedir a quem quer que fosse alguma forma de socorro. Em meio a minha exaustão, eis que uma pálida luz distante, no formato de uma lua crescente surge a uma linha reta `a minha visão. Tudo parece estar pálido a minha volta, seja por um ato de misericordia divina, seja por algum fato da minha imaginação. No meu peito, a angustia crescia na medida em que meu oxigenio simplesmente sofria uma certa dificuldade para chegar ate os meus pulmões. Com vontade de gritar ou chorar, eu rezei. Rezei com todas as forcas, sentindo meus braços formigarem e minha boca se mover, sem realmente estar acontecendo nenhuma das duas coisas. Então uma luz ofuscante brilhou em algum ligar próximo aos meus olhos como se um "flash" de uma camera fotográfica tivesse sido disparado e , nesse exato momento, a dádiva de despertar me foi concebida.
Enquanto passei pelo terrível transe, lembro-me de ter esperneado e gritado ate cansar, movendo-me teimosamente pela cama, mas ao acordar, percebi um tanto quanto decepcionada, que encontrava-me na mesma posição que tomei ao dormir. Procurei desesperadamente por meu celular, tentando descobrir a que altura da noite eu estava. E então uma surpresa: eram 5 horas e 37 minutos. O inicio do amanhecer. Lembro-me de ter adormecido por volta das 19 horas do dia anterior e depois de ter ouvido algumas reclamacoes de minha mãe. Lembro de ter acordado assustada no meio da noite e ter ingerido um pouco de brigadeiro de dentro da geladeira. E então, sem nem esperar, já era manha. Mantive-me acordada para conter o choque, mas minhas pálpebras, para minha surpresa, estavam mais pesadas do que nunca. Tentei lutar contra o sono, mas foi inútil. Adormeci novamente, mas dessa vez deixei que o véu pacifico do adormecer me envolvesse em sua tranquilidade, entregando-me de corpo e alma a um sono que outrora fora perturbado por meus pesadelos lúcidos e misteriosos.
Ao que parece, minha mente ainda esta perturbada por esse acontecimento que há muito não me ocorria. Por isso, resolvi finalmente pesquisar a respeito, deparando-me com relatos que indicam os mesmos sintomas. Ao que eu pude constatar, o fenómeno se trata de uma espécie de "acidente" chamado "Paralisia do sono". A pessoa acorda, mas o cérebro não, ocorrendo assim, uma consciência apenas mental do mundo, enquanto o corpo se mantém inerte, ainda não adaptado a ruptura do sonho. Segundo a wikipedia e mais uns oito links de respostas do google, simplesmente pode ocorrer alguns tipos de alucinacoes durante a paralisia. Embora essas teses tenham diminuído as minhas preocupacoes sobrenaturais, algo dentro de mim diz que ha mais do que isso em tudo o que me ocorrera durante a noite.
E por mais estranho que pareça, sinto que isso é apenas o começo.

Um comentário:

  1. Mas na verdade eu gosto do que você escreve
    Eu amo ler o que você escreve
    Faz me sentir parte da sua vida.

    - Plagiei o Raul \o/

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