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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pseudo Infância


 

Ela estava sentada em sua escrivaninha já fazia um bom tempo, sentara de dia e só saira a noite: Tudo que queria era ter um pouco de fuga imaginaria, criação literária que arrepia seus neurônios e da a ela um motivo para ficar sentada durante tanto tempo. Mesmo que o dia la fora pudesse estar notoriamente belo, ela só queria estar em seu quarto, absorta em sua criação.

Os cabelos cor de vermelho sangue caiam-lhe nas costas, batendo em sua cintura oculta entre as malhas da blusa enfeitada com pedras de acrílico, alias, odiava aquela blusa. Usava tal vestimenta apenas para fazer feliz o pai ausente que, num momento de delírio havia lembrado de sua filha única. Ainda assim, a menina continuava odiando o presente, mas fazia questão de usa-la, fosse por saudade, fosse por simples saciacao de sua consciência culpada que embebava seu cérebro de um sentimento que a forçava a reciprocidade do amor paternal.

Alem de saber escrever e odiar sua blusa, odiava também o estudo, por motivos complexos demais para uma pequena menina de apenas onze anos. Na realidade, ela gostava de estudar, mas não compreendia a forçosa tarefa de ir ate um local especifico que a deixasse a mercê de adultos mau-humorados e alunos desinteressados. A menina também odiava seu nome e, por esse motivo não me é permitido revela-lo. Sentia-se confusa na pior fase de sua vida, estava tornando-se adulta e temia tal consequência.

So havia duas coisas que ela amava: as palavras e seu coelho. Tinha um verdadeiro amor pela escrita, o que explica o fato de tal ato ter se transformado em seu principal refugio. E, quanto mais lia, mais sentia vontade de escrever sobre as doces ilusões ou terríveis, absurdos medos que invadiam sua mente precoce. Muitas vezes sentia-se sozinha e, ao dar-se conta disso, passava horas tentando compreender a difícil personalidade de seu coelho, o qual era desprovido de nome. A menina achava que se o submetesse a um substantivo próprio sem seu consentimento, estaria forçando a ele a mesma injustiça que fora imposta a ela e, por temer compreende-lo erroneamente, privava-o de tal sofrimento.

Mesmo que esse relacionamento pudesse ser estranho, ela não se cansava de falar com o amigo: uma conversa sem palavras, verbalizada em olhares e compreendidas pela intuição de ambos. A amizade era algo difícil de ser compreendido quando se possuía tão pouco conhecimento da arte social. Por isso, a menina contentava-se com seu coelho e seus livros. Muitas vezes esquecia-se do pai por não vê-lo constantemente e só era incomodada e cuidada adequadamente por suas serviçais. Não fazia questão de conhecê-las, quer fosse por puro costume misantropo, quer fosse por puro desinteresse.

Era uma menina estranha, solitária. Uma pré-adolescente que sem querer havia se tornado mais adulta que qualquer adulto que conhecesse. Ainda possuía os olhos inocentes de criança, assim como o corpo infantil, mas sentia-se velha demais para a sua idade, como se não pertencesse aquela vida. Ela não sabia ao certo quem era, mas apreciava sua solidão, enquanto criava os mais lindos mundos dentro de seu caderno de escrita.

Tinha talento, mas faltavam-lhe as perspectivas. Estava em constante luto de tristeza. Era cética, encantadora. E por mais que se destacasse, jamais quisera ser vista. Era uma velha precoce, uma criança prodígio. Uma alma sem lugar em um mundo inescrupuloso.Derramava lagrimas de fogo no cair da noite, quando imaginava sua mae brincando no mundo dos anjos. Queria vê-la de novo, mas a invejava por estar em um lugar melhor que ela. E assim, adormecia: na doce inocência dos onze anos, complexas ideias de quarenta.

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