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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Breve epilogo

Suas mãos suadas estavam agarradas em meus dedos de uma forma tão honrosa, tão necessária que eu cheguei a sentir como se fosse a única pessoa existente na face da Terra. Ainda que soubesse que isso estava errado, que ha cerca de 5 bilhões de outros seres humanos no mundo, foi bom sentir isso. Bom e mórbido. Eu era a ultima enfermeira nessa ala do hospital e não tinha nada que pudesse fazer para acalmar a alma que seguia seu caminho enquanto segurava minha mao. E era tão bonita! Os cabelos louros caiam-lhe sobre o colo inerte. O brilho opaco dos fios a dar-lhe certa beleza mesmo no esvaecer de sua aura, emoldurando um belo rosto de traços suaves com dois pequenos olhos ambar.

Eu sabia disso. Sabia que ela iria morrer, mas não esperava que fosse logo no momento em que eu deveria estar la. E quem foi que me mandou trabalhar ate tarde, então? Eu e essa minha mania terrível de esticar meus honorários e ignorar meu vergonhoso salário... Se ainda tivesse outra forma de ter saído do hospital, se eu ainda não estivesse com humor... Mas não. Eu tinha que ficar. Logo hoje, logo aqui. Na partida inevitável da minha mais triste e bela paciente.

Um longo suspiro saiu de seus lábios e um arrepio perpassou meu corpo no mesmo ritmo. Um choque elétrico causando nas minhas veias um frio paranormal.

O parar de bater do coração dela no mesmo segundo em que o meu próprio coração começara a bater.

E naquele momento, eu nasci.

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