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domingo, 31 de março de 2013

O Palco de Dementes

Estive me abstendo de detalhes previsíveis , de minuciosidades insignificantes, de pequenices do cotidiano. Já não compreendo mais em que rua da saudade meu coração tem andado. OS sentimentos se confundem em um redemoinho confuso de explosões contidas no início da garganta.

Quase não há sentido no amor. Quase não há sentido no ódio. Mas a indiferença? Ahh, essa me deprime, me incomoda, me incita. Sou como um peixe ingênuo que, na sua ânsia por abocanhar o anzol, acaba morrendo na expectativa de sentir-se pleno. Um resultado injusto para tamanha bravura. Aliás, acho que nada se compara à bravura do peixe que, lutando por sua sobrevivência, acaba por morrer em batalha. São soldados de honra, tão louváveis quanto aqueles que dão a vida por sua nação. A inocência do peixe o torna santo, quase glorificado. Glória esta que ferve na água escaldante, que tosta na banha quente, que é brindada ao vinho tinto nas mesas católicas da Sexta-Feira Santa.

Já não acredito mais em louvores, em orgulho, em felicidade. São todos sentimentos que nos saltam aos hormônios como resultado de uma crença mal fundada. Podemos ser o que quisermos e isso não nos é contado na escola ou no desenho da Disney. E não é que, na maioria das vezes, escolhemos ser o nosso pior? Como se já não fosse o suficiente que o mundo em si já faça questão de ser o seu pior. Somos a vergonha da Via Láctea, acredite.

Fomos jogados nesse planeta atrasado e moribundo, com pessoas vazias, com almas corrompidas, com uma existência que se apaga em meio ao furor da alienação, como uma vela que comete suicídio com suas próprias brasas. Pergunto-me se Deus gosta do que vê. Se Ele, na sua sabedoria infinita, sente-se satisfeito com as plantas que a sua própria criação gerou e destruiu. Será que se orgulha? Será que, nas suas reuniões de Deuses inter-galácticos , Ele se gaba de nossas destruições intermináveis, dos nossos corações de pedra?

Sinto que a loucura se aproxima dos meus questionamentos, tornando minhas hipóteses absurdas. Não vejo mais dificuldade na existência humana. Aliás, nada nesse mundo de tormentos é tão fácil quanto existir. Viver é difícil. A vida enfrenta perigos que a alma não teme, que a mente não compreende, que o corpo não suporta. A existência está por um fio. O homem apenas aniquilando sua própria espécie como se essa fosse a coisa mais normal do universo.

Todo humanista prevê respeito e harmonia. Como se a paz fosse tudo o que mais desejamos. Bem, não é. O caos, a guerra, a dor, a luta, a sujeira... Tornaram-se indispensáveis! Todo mundo quer ter uma história de luta para contar a respeito de si mesmo, e isso tem de envolver sofrimento. Caso contrário, que graça há na vitória? Como se não fosse absurdo o suficiente simplesmente conviver com a miséria em si, do modo como convivemos.

Acho mesmo que esse mundo foi criado em um momento de euforia. Com todos esses vales e florestas e mares e animais e flores perfeitinhas. Mas, então, num impulso, Deus criou o homem, seu pior arrependimento. Deu ao homem o poder de controlar uma terra que não o pertencia, de destruir uma nação que não era sua. Deus perdeu-se em sua emoção, em seu amor, em sua ingenuidade. Teve, então, o descuido de dar-lhe liberdade. Assim, o homem, burro como é, fez tudo de errado que podia.

E aqui estamos nós, falando de peixes, desistindo do amor, questionando divindades.

Aqui estou eu, esperando por um milagre que me faça ver algum sentido nesse imenso palco de dementes, como já dizia meu amigo Shakespeare.

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