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domingo, 17 de março de 2013

Quelqu’un M’a Dit – Carla Bruni

Bilhões de pessoas nesse planeta e são os seus beijos que eu sinto quando domingo se despede em uma noite comum de março. É a sua voz que eu ouço, mandando arrepios pelo meu corpo, enquanto as luzinhas azuis do meu quarto embalam esse espaço-tempo infinito chamado pré-sono.

E, agora mesmo, alguém sorri no parque japonês, observando borboletas, amando o passado e sentindo saudade do que ainda não viu. Alguém sorri para você. Seus olhos abaixam. Você pensa em como a menina poderia ficar bonita com uma flor no cabelo. A menina pensa em como suas narinas formam conchinhas perfeitas em cima de uma boca pequena. E então o amor nasce. Vocês não mais são perdidos e inusitados. Vocês agora viram cúmplices de palavras que nunca foram ditas.

Não é engraçado a forma como os quadrados e triângulos tem ângulos perfeitos e tão opostos uns aos outros? Somos isso. Eu e você e os outros. Milhões de formas geométricas em seus cubículos, dividindo um universo perfeito, repleto de ângulos imperfeitos. Somos tão quebrados e ainda assim tão completos. É assim que eu e você nos achamos por entre as teias milenares e impossíveis da via láctea.

Pedaços de poeira de meteoritos. Nós levitamos em meio ao nada, nos encontramos na lua. Eu e você. E os outros também, por que só Deus sabe o que mais pode haver entre os desencontros e destinos e tragédias dessa vida. Alguém toca violão naquele Bistrô charmoso em Paris. Você vê? E então a história começa. Dizem por aí que as pontes infinitas foram reconstruídas, que os meninos são mentirosos e que as mulheres choram demais.

Que pontes? Que meninos? Que mulheres?

A relatividade do universo dança em frente aos seus olhos infantis. Não tenha vergonha, estamos apenas brincando. O amor é lindo, vamos brincar de amor. Vamos brincar de sorrir. Vamos brincar de felicidade. Vamos brincar de escrever, por que é isso que fazemos. Nós nascemos para tentar ajeitar a órbita do planeta, pra tentar marcar a história mundial.

Ele entra pela porta dos fundos, escondido, medroso, ingênuo. Ela sai da cozinha, carregando uma panela com sua mais nova invenção. Chamam aquilo de sopa de legumes da onde ela veio, mas sabe-se lá de que chamariam no outro lado do continente. Ele levanta a cabeça, ela tropeça nos cadarços. O líquido salta. Eles se olham. E é aí que o amor nasce. Como uma criança indesejada. Vocês sabem que não podem, mas querem. E o mundo gira ao contrário, a poeira dos meteoritos começa a fazer sentido, New Armstrong jamais estará sozinho de novo. Vocês estão na lua. Ela gosta da forma como o cabelo dele enrola e espeta na cenoura crua. Ele gosta em como as unhas dela se torcem de nervosismo no avental amarelado.

Somos isso, eu e você. Formas erradas que se encontram no meio do universo, como pesos de medidas iguais em uma balança. Eu, você e os outros. Por que o resto do mundo também está inserido nessa imensa historia de amor.

Eu, você e as borboletas.

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