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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Qualquer Negócio - Clarice Falcão

Me deixa ser quem faz o laço da gravata do mordomo que te serve o jantar.
Me deixa ser o suporte que segura a tela plana da sua sala no lugar.
Me deixa usar o pé pra equilibrar aquela mesa bamba que você aposentou há mais de um mês
Me deixa ser a sua estátua de jardim, oseu cabide de casacos,
Só não me tira de vez da sua casa.

Eu posso ser a empregada da empregada da empregada da empregada do seu tio.

Me deixa ser o seu pingüim de geladeira,
Eu fico uma semana inteira sem mexer
Me deixa ser o passarinho do relógio
Que de hora em hora pode aparecer,
Pra eu te ver

Me deixa ser quem passa a calça que você precisa usar  no seu jantar à luz de velas com alguém.
Me deixa ser quem deixa vocês dois de carro em um restaurante caro.
Só não deixa eu ser ninguém na sua vida.

Eu posso ser a empregada da empregada da empregada da empregada da empregada da empregada da empregada  da empregada do seu tio.

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