Existem
momentos na vida. Momentos em que podemos jurar que o infinito realmente existe
e está dentro de nós. Hoje eu tive um desses momentos. Depois de tanto tempo
sofrendo por não me sentir mais como um ser humano normal, eis que finalmente
eu tive um momento de emoção completa. Você não tem muitas opções quando seu
momento chega. Você só pode se entregar, ou segurar a emoção até que exploda em
outro momento. Mas enquanto eu estava sentada no carro, entre a minha irmã e a
minha mãe, escutando a conversa do meu irmão com a amiga dele nos bancos da
frente e a brisa do mar entrando pela janela, só consegui sentir aquilo. Aquele
sentimento de tristeza infinita. Quase como se, de repente, tudo estivesse
desmoronando na frente dos meus olhos. E eu senti tanto amor e tanta dor ao
mesmo tempo, que não pude segurar. A dor transbordou pelos meus olhos, meu corpo
dava espasmos desesperados. Eu tentei ser discreta, mas meu nariz simplesmente
não consegue funcionar direito quando o choro vem, então qualquer um percebe as
fungadas silenciosas. Eu percebi que poderia estar com problemas psicológicos
enquanto chorava dentro do carro numa manhã comum de novembro. Eu percebi que a
vida tem sido muito má ultimamente e tem acontecido muitas coisas ruins. E as
pessoas tem sido cruéis e os acontecimentos tem acabado com a minha esperança.
E então meu aniversário tem sido uma festança infinita desde ontem. O bolo e os
salgados continuam aparecendo na minha frente, surgindo em todas oportunidades.
Os presentes são maravilhosos. Você não me felicitou, mas veja que engraçado,
tem um cara que eu não conheço que veio no seu lugar. E isso realmente me pegou
desprevenida, por que eu não sou o tipo de garota que chama a atenção de caras
desconhecidos. E então também tem esse livro maravilhoso que fala sobre os
traumas de tantas pessoas sob a perspectiva de um cara com problemas em lidar
com a vida social. E esse livro que eu li em apenas um dia, enquanto minhas
emoções afloravam, traduziu com muita perfeição o quanto a vida é dificil de
ser levada. Exceto quando alguma grande entidade do universo resolve que
finalmente chegou a sua hora de ser presenteada e o planeta começa a girar pro
lugar certo e você sente que foi escolhida pra ser feliz. Eu não pensei que
fosse dizer isso tão cedo, mas estou feliz. Absurdamente. O mais assustador é
que isso não tem nada a ver com homens ou namoros ou amores ou paixões. Eu
estou puramente feliz. Feliz pelas conquistas, feliz por que minha mãe me
abraçou hoje enquanto eu chorava na praia depois de conseguir pisar pela
primeira vez em tanto tempo dentro da agua sem que ninguem precisasse me
segurar. Feliz por que meu irmão parecia ter voltado no tempo e esquecido a
guerra travada entre eu e ele nos utimos anos, desde que comecei a pintar o
cabelo, fazer tatuagens ou não estudar para as provas. Feliz por que o dia
estava ensolarado e o calor poderia estar insuportável para todas as outras
pessoas em casa ou no trabalho numa sexta-feira comum, mas para mim estava
ótimo. Feliz por que eu finalmente declarei trégua ao sol e nós nos demos tão
bem que eu até exagerei na dose e agora preciso disfarçar a vermelhidão dos
meus ombros queimados. E esse momento, o momento em que me senti infinita, foi
suficiente para tirar de mim todo o mal dentro do meu coração, o peso que tem
me atirado pra baixo por tanto tempo. Essas coisas são estranhas. Charlie
estava tremendamente certo quando descrevia a dificuldade que temos em lidar
com as outras pessoas. Uma das vantagens de ser invisível é que você consegue
perceber muito em pouco, a capacidade de interpretação corporal fica muito mais
afiada. Então eu posso dizer que a felicidade foi mútua quando minha família me
viu abrir os braços abaixo do sol de trinta graus e deixar que as ondas me
empurrassem em direção à beira do mar. E eu posso dizer que esse foi um dos
momentos mais incríveis que eu jamais pensei que teria. Por que, se você quer
saber, ainda estou emocionada. Não somente pelo sol, ou pelo sorriso da minha
mãe, ou pela anacronia do meu irmão ou pela emoção da minha irmã. Mas também
por que eu finalmente parei de me importar com tantas coisas e decidi isso há
apenas alguns dias atrás. Quando eu disse ao universo que não me importava com
ele, desde que ele fizesse as coisas certas, as coisas certas começaram a
acontecer por si próprias. E agora eu sinto que não preciso mais beber para
amortecer a dor ou fumar para esconder o choro atrás da fumaça. Eu sinto que
esse amor dentro de mim precisa ser demonstrado. E sinto um êxtase anormal por
também ter revolucionado a história do meu rendimento acadêmico. É como se,
pela primeira vez em muitíssimo tempo, ser a pessoa que eu sou fosse a coisa
correta a se fazer. Não que eu tenha muita escolha, mas posso dizer que estou
feliz em ser quem sou. E isso também me dá vontade de chorar, mas acho que
minhas emoções estão fragilizadas graças ao sol e ao sal e ao sorriso da minha
mãe. E também tenha alguma coisa a ver com os pastéis e as empadas e o bolo
surpresa que é o meu preferido e todo mundo resolveu comprar pra mim. Só espero
que esse momento seja eterno na grande imensidão de momentos efêmeros.. E que
eu consiga, ao menos mais alguma vez na vida, me sentir infinita.
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