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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Conserta-se Pessoas



Ontem eu estava refletindo sobre qual seria o novo negócio em que meu pai iria investir para tentar ganhar um bom dinheiro, e quem sabe, comprar aquele tão sonhado barco de férias que ele tem sonhado em comprar durante tantos anos. Então, no exato momento em que me perguntava qual seria o novo negocio, uma imagem apareceu na minha mente: eu vi uma casa – a minha casa – e na frente dela tinha uma placa enorme, branca com letras vermelhas, meio tortas, escrito: "CONSERTA-SE BRINQUEDOS".

Então eu logo apaguei essas palavras mentalmente, e pus "PESSOAS" no lugar de "BRINQUEDOS".Afinal, meu pai nunca fora bom em consertar brinquedos, entretanto, eu sempre fui boa em consertar pessoas.

Não, na verdade eu nunca fui boa em consertar pessoas, mas eu passei uma grande parte da minha vida tentando fazer isso.

Desde pequena, eu sempre tive uma espécie de "encanto" por problemas a serem resolvidos e compreendidos. Eu sempre tive uma apreciação especial por aqueles brinquedos estragados ou riscados, sempre tive preferência pelas bonecas ditas "feias" ou esquisitas. E, como reflexo desse comportamento, todas as pessoas que passavam por minha vida acabavam passando pela sala de cirurgia, como uma espécie de tentativa frustrada que eu fazia, acreditando que pudesse "conserta-las" assim como sempre tentara fazer com minhas bonecas.

Eu acabava me apegando a cada criatura viva que passasse por mim, e assim como os brinquedos com defeitos, a maioria das pessoas tinham problemas a serem resolvidos.Em poucos anos, eu me tornara a "conselheira oficial" do ensino fundamental, desde dicas de estudos até palavras bonitas que eu escutava na televisão ou da boca de algum adulto em minha casa. Independente da pessoa que me pedisse um "conselho", eu sempre tinha boas palavras para anima-la, mesmo que fossem sem sentido e eu não soubesse ao certo o seu significado.

Então o tempo foi passando, e essa minha mania esquisita de ajudar os outros foi se modificando conforme os meses alteravam minhas perspectivas. Antes, eu costumava ajudar apenas àqueles "brinquedos estragados" que me pedissem por ajuda, entretanto, isso foi se expandindo em alguma parte muito importante dentro de mim, ficando de tal tamanho que me ensinara a procurar os problemas ao invés de espera-los. Era como se eu estivesse com a placa escrito "conserta-se pessoas" dependurada em meu pescoço, caminhando pelas ruas em busca de mais e mais clientes.

E isso de fato nunca me incomodou. A paixão que eu tinha pelas historias de vida das pessoas apenas aumentou, causando uma enorme felicidade em mim quando essas me procuravam ou respondiam avidamente às minhas inquietantes perguntas.

Algumas pessoas tentavam entender o que me motivava a querer compreende-las, mas nem eu sabia responder ao certo. Eu só sabia que eu tinha uma imensa vontade de abraçar o mundo com todas as minhas forças e talvez causar a tão sonhada revolução que eu sempre desejei que existisse. Mas não uma revolução que envolvesse armas ou sutiãs jogados em uma praça, e sim uma mobilização que envolvesse a compreensão e o respeito. Uma espécie de nova teoria, onde as pessoas se abraçariam e finalmente conseguissem enxergar além do que sua visão erradica e teimosa as faziam ver.

Infelizmente, não foi esse o resultado.

Eu me foquei tanto no lado bom das minhas ações, que esqueci completamente das conseqüências ruins que isso poderia trazer as pessoas ao meu redor.Sem querer, eu acabei por tocar em feridas que jamais deveriam ter sequer sido expostas. Eu coloquei band-aids onde não deveria, costurei peles que não existiam, pus mercúrio onde nunca deveria ter posto. Eu esqueci da primeira regra dos primeiros-socorros quando uma pessoa sofre um acidente muito grave: deixa-la imobilizada. Eu acabei me tornando naquilo contra o que eu mais lutara a vida inteira: um problema.

Eu causei frustração, raiva, medo, desordem. Eu contradisse tudo no que eu acreditava.

Eu mudei.

Então, me tornei melancólica e triste. Eu havia construído um monstro, assim como Victor Frankeinstein, mas ao contrario dele, o monstro havia nascido dentro de mim mesma ao invés de andar por ai assolando casas e matando crianças.

Eu era o meu próprio Frankeinstein, a minha própria aberração.

Hoje, eu faço apenas suposições, tentando não ter certeza de nada, tentando não dar uma palavra correta ou bem direta. Eu sempre digo um "talvez, quem sabe, vamos ver, pode ser" antes de colocar qualquer ponto final em minhas opiniões. Eu resolvi por parar de procurar soluções naqueles brinquedos estragados ou naquelas bonecas riscadas, porque eu percebi que eu ainda poderia brincar com eles, não importa o quão defeituosos eles estivessem. Eu ainda os amaria, independente de quantas doses de remédios eles precisassem.

Eu aprendi que as pessoas precisam buscar seu crescimento sozinhas, com suas palavras e crenças, tentando buscar seus prêmios por seus próprios méritos. Eu percebi que não cabe a mim dizer o que é correto, mas apenas guiar o caminho e mostrar as escolhas ao invés de dizer o que eles devem escolher.

Mas eu ainda sou aquela garotinha curiosa que acredita que uma pessoa pode mudar o mundo, não importa o quão difícil isso possa parecer.Então, você me perguntará o porquê, e eu direi: Por que embora as pessoas possam ser más, eu ainda tenho aquela confiança e teimosia dentro de mim que insiste em dizer que vale a pena acreditar que o mundo pode melhorar apenas com a evolução da mente humana.

Um dia, meus caros, vocês verão isso por conta própria, mas enquanto esse dia não chega, contentem-se com meus humildes textos utópicos, que talvez não sejam tão utópicos assim...

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