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domingo, 16 de dezembro de 2012

Desabafo Indecente

Devo ter algum problema grave de fabricação gravada no íntimo dos íntimos de dentro das minhas partículas de átomos danificados nas milhões de zilhões de células que me fazem ser quem eu sou. Sério. Sem querer blasfemar, mas acho que Deus teve um grande descuido trágico enquanto me soprava por dentro do nariz de barro. Tenho certeza que alguma parte do meu risco rígido de memória RAM está muito danificado, tipo muito mesmo. Sabe? Como um cavalo de Tróia permanente ou algo assim. Como quando cai um fio de cabelo dentro da panela e a gente não sabe mais como tirar e só se da conta depois que ta comendo e encontra o dito fio dentro da boca. Tipo algo irreversível, intransigível, indissolúvel. Com uma consequência certeira no final do destino errado. Tipo comer um macarrão maravilhoso com um molho divino e ser incomodada pelo mesmo fio de cabelo logo quando o alimento estava sendo dissolvido com seu devido prazer.

Quer algo mais broxante do que fio de cabelo no meio da massa?

Acho que só cueca de bichinhos. Sério.

Não, não me refiro a minha miopia, ao meu estigmatismo ou aos meus dentes tortos. Tampouco reclamo dos meus dois pés esquerdos ou dos meus olhos separados. Tem também esse redemoinho esquisito no topo frontal da cabeça que aborta todas as minhas tentativas de uma franja perfeita. Ah, claro, tem também a minha alergia a ácaro e a minha bronquite aguda e a minha teimosia e falta de responsabilidade momentânea. Mas não, não é nada disso. Meu problema central vai além de qualquer defeito meramente ilustrativo, físico ou psicológico. E é tão, mas tão vergonhoso que eu nem sei ao certo sobre como devo escrever sobre isso. É um daqueles assuntos constrangedores, tipo quando a gente vê a nossa mãe de lingerie se achando a Madonna. Acreditem, eu já passei por isso. Tão constrangedor quanto deixar aquele estrangeiro bonitinho escorregar a mão pro lugar certo quando a porta está relativamente aberta no lugar errado e alguém presumidamente estúpido acaba vendo.

Senhoras e senhores, tirem as crianças da sala, pois a coisa agora vai ficar feia. Preparem seus corações, respirem fundo, deem as mãos, pensem em Jesus e torçam pra que eu encontre a luz divina depois dessa revelação, por que o que virá a seguir será chocante, terrível, estrondoso, constragedorreríssimo: Eu sou um buraco sem fundo. É, tipo um daqueles funis que se usa na cozinha pra coar as coisas sabe? Bem assim. Eu sou insaciável, insatisfeita, horrorosa. Tipo uma fome que nunca se acaba, uma preguiça que nunca se finda, um beijo que se prolonga. Tipo algo incomum. Tipo anormal. É isso. Eu sou tipo um funil, uma pessoa anormal. Não tem chegada, não tem fundo, não tem chão, não tem gravidade. Não tem porra nenhuma na verdade. E, do fundo do coração, não queria mesmo que a ultima frase rimasse.

Já tentei falar isso pro meu psicanalista e ele disse que o ser humano nunca está satisfeito e isso é normal. E vamos combinar que essa é a porcaria de frase mais clichê e estúpida de todos os tempos. Quer dizer, se eu matasse alguém o cara simplesmente poderia então dizer que a minha violência é normal por que é coisa do ser humano ter um pouco de filha putice dentro de si, certo?

Daí eu contei pra minha melhor amiga. Por que é isso que uma mulher estressada e louca de desejos insanos faz quando não sabe quem mais poderia entendê-la se não aquela outra mulher estressada e cheia de desejos insanos que deveria ser a sua irmã: ela conta tudinho e espera ser entendida, ou, no mínimo, reconfortada. Vã ilusão. Minha melhor amiga é tão macho e tão mais problemática e tão mais prática do que eu, que me bateu forte no ombro e disse "Deixa de ser mulherzinha".

Então eu, já desesperada, tentei contar pra minha mãe, por que, no final das contas, só quem passou oito horas num trabalho de parto horrível pra abrir a vagina em mil vezes maior do que o tamanho normal pra te deixar entrar nessa bosta de mundo deveria saber o melhor a dizer numa hora dessas. Que tolice a minha! Ela fez biscoitos, passou a mão no meu cabelo e perguntou, com um sorriso ansioso, se eu achava que aquele novo corte de cabelo horrível estava parecido com o da Katy Perry. E o que eu fiz? Eu disse que sim. Não é como se eu pudesse falar que minha mãe parecia mais com uma união bizarra entre uma daquelas galinhas de briga que se põe nos ringues ilegais e ficam com a crista toda fudida e a tentativa falida da Miley Cyrus em parecer minimamente mais malvada com aquele cabelinho curto e descolorido do que com a eterna Hanna Maconha.

Montanha.

Montana.

Tanto faz.

A gente simplesmente não pode dizer uma coisa dessas. É tipo quebrar um dos protocolos principais estabelecidos na história da paz mundial na relação de mães e filhas. E como eu sou uma mulher muito digna, fiel aos protocolos de mães e filhas e extremamente compreensiva com essa paixão feminina em estragar o cabelo pra tentar disfarçar a solidão, menti.

A questão é que ninguém, ninguém mesmo me ouviu. Tentei até falar com as paredes como diz aquela música cafona. Mas eu tô pouco ligando se elas me ouviram. Por que paredes não nos abraçam ou dizem que somos mais bonitas do que a tal da Megan Fox como somente um bom amigo gay faria. Não. Elas ficam ali, perdidas nos seus tons pastéis, como se não tivéssemos dito nada. Que ganho eu posso ter em falar com paredes quando elas não me respondem? Então nem mesmo a parede pôde saber quais são meus desejos insanos.

Daí eu lembrei de algo crucial nessa minha vida: o meu netbook. Que instrumento mais maravilhoso! Claro, claro. Eu tenho um blog! O lugar mais maravilhoso do mundo, do planeta, do continente, do universo, da galáxia, da existência estrelar dos jedis da sessão interplanetária inimaginável. Simples assim. O meu blog é o lugar mais foda de se falar com alguém. So, here am i (então, aqui estou eu). Bilíngue e tudo. Mas só por que eu amo vocês. E só por que ninguém mais vai me entender.

Sou uma louca insaciável. Até aí tudo bem, acho que vocês já entenderam. Mas e como funciona quando a gente quer mais de um? Sabe... Mais de um. Tipo quando tu tem um carro e quer ter outro. Não que teu carro não te faça feliz. Não que teu carro não te satisfaça. Não que teu carro não seja grande e veloz e potente e másculo e tenha mãos fortes, digo, rodas. Rodas fortes. Mas é que daí te dá uma pontinha de vontade de voltar a experimentar o carro velho, só pra dar uma voltinha fora do comum. Só pra ver se continua bom. Carros. Sim, eu sou uma maníaca, louca, compulsiva por carros. E a questão é que vivo morrendo de vontade de experimentar outros carros. Claro que eu tenho um carro bem potente na garagem, mas não pode ter mais outros não?

Livros. Amo livros. Amo, amo, amo. Todos eles, amo todos. Eu poderia citar dezenas e dezenas com a frase "esse é meu preferido" do lado e iria ser verdade. Por que não pode ser assim com carros? Eu quero carros. Mulheres, vocês sabem do que eu estou falando. Carros. Sabe? Outras marchas, outros pedais, outros assentos. Uma nova maciez, um ronco de motor diferente, um cheiro de climatizador diferente. Um com ar condicionado, outro com janelas grandes, outro com quatro portas, outro só com os bancos da frente. Caminhonetes, derivações, cores diferentes. É muito bizarro? Loiro, moreno, ruivo. Amarelo, preto, vermelho, azul. Quero carros. Mas ninguém compreende. Ninguém consegue. É muito bizarro? É muito promíscuo querer experimentar outras texturas, outras visões, outras peles? Queria ser mais de uma, pra andar em vários carros ao mesmo tempo.

Por quando eu estou dentro de um, penso em estar dentro de outro. E eu nem sei ao certo como explicar isso. É muito bizarro? Será que um dia ainda vou acabar como a minha mãe, com os cortes de cabelo e a adoração pela Madonna e tudo? Não que minha mãe seja uma tarada maluca por carros, mas essas coisas meio que chegam na gente junto com a genética. Mas e se minhas filhas forem assim também, então a culpada serei eu? Filhos. Como vou ter filhos com vários carros diferentes? Não fecha.

Carros e homens. Meu grande problema nessa vida. Minha ambição mais vergonhosa, promíscua, sombria e curiosa. Não que eu me ache a rainha das putas dos carros. Mas acho que no fundo, lá no meio desse montinho esquisito de carne que a gente tem nas entranhas, toda mulher é meio puta. Não tem essa de se nascer santa e virar anjo. Não gosto da palavra puta por que é meio violenta. Mas gosto da libertação que ela trás. Ser puta é questão de respeito na Farrapos noturna. E se tu não sabe o que é farrapos, vem pra Porto Alegre que eu te explico, por que é uma das ruas que exala desespero, sexo e libertação feminina.

E carros dos piores tipos.

Por que somente carros baratos apreciam boas putas farrapianas.

Putas que tem todos os carros que querem e os que não querem também por que são putas e sabem disso. Ser puta é uma condenação promíscua que liberta a puta interior da puta puritana. A mulherada do mundo tá infestada por essa nova raça, as putas puritanas. As mulheres fortes e independentes que se divertem com os próprios dedos por uma falta de coragem absurda em se aceitarem como putas. E não digo isso como uma ofensa, mas sim como algo digno, uma característica comum no sexo feminino. O putismo. Libertem-se mulheres, libertem as putas que há em vocês. Sem puritanismos ou hipocrisias ou classe ou beijinhos ensaiados. Sem lençóis manchados do próprio batom. Chega de ser auto-suficiente. Sejamos putas. Sejamos verdadeiras. Sejamos mulheres de fibra com algo a oferecer pra esse mundo.

Putas sem vergonhas e corajosas do universo: Uni-vos!

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