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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Aquilo que pode ser Amor


Me pergunto se felicidade é acordar e encontrar seus olhos, todos os dias, absorvendo minha vida pacata de uma forma tão bonita que chega a doer. Me prendo nessas rochas castanhas que se movem em círculos quando você não percebe. Meus desenhos servem apenas como esboços das cicatrizes negras que emolduram sua íris avermelhada. E acho, lá no fundo da minha alma, que isso pode ser amor.

Que nome posso dar a essa sensação? Esse sopro quente que me envolve os órgãos a dentro, de súbito, violenta e suavemente, movimentando cada partícula de cada célula da minha vida, de mim.

Você é lindo quando boceja alto às onze da manhã como se fosse quatro da madrugada. Você é lindo quando canta Slipknot enquanto lava a louça ou arruma minha cama. Você é lindo quando me repreende, quando me chama de mimada e sacode meus ombros caídos até que eu perceba os contornos reais da vida como ela é e não como a minha fantasia quer que seja. Você é lindo quando se concentra em cozinhar , quando se concentra em polvilhar, quando se concentra em ser lindo para poder se concentrar. Você é lindo quando faz caretas, quando olha distante e pensa nas suas besteiras de menino, quando olha pra baixo e sofre com os seus problemas de homem. Você é lindo quando fala em casamento, quando fala em filhos, quando fala em fugir pra Romênia e viver de bife de soja.

Eu não sei, mas acho que isso pode ser amor.

Eu não sei o que pensar sobre caras que demonstram demais os sentimentos, mas você faz tudo isso parecer certo. Você apenas sendo você com suas caretas, seu cabelo bagunçado, seus dentes pequenos, seu hálito adocicado. Você sendo você, um completo babaca. O babaca mais lindo e brega que eu já vi na vida. E eu sendo apenas eu, amando você como se fosse a coisa mais certa a se fazer no planeta. E, ainda assim, achando que a vida pode parecer linda e certa às vezes. Até quando falta luz e eu fico inventando medos bobos no escuro e você segura minha mão pra não deixar que os poetas mortos me carreguem aos seus túmulos. Até quando acordo com vontade de brigar com o mundo, de odiar a família, de matar cachorrinhos que são pequenos e latem com a voz aguda. Até nesses dias você consegue ser lindo e babaca e totalmente responsável para colocar alguma dose de equilíbrio no meu cérebro rebelde e incontrolável.

Quando eu era pequena, mamãe dizia que homem não prestava. Que eu seria boba se deixasse algum se aproximar de verdade e acabasse correspondendo o sentimento. E mamãe tava certa! Certíssima! Homem não presta, admito que sei disso. São todos jacas podres, estragados como meteoritos expulsos do universo que caem na Terra explodindo tudo. Mas você é tão criança que é apenas um menino. Um projeto de meteorito que abriu uma cratera linda na minha vida e incendiou tudo. Mamãe tava certa: Homem não presta. Mas você é menino e eu sei que é bom. Por que nós dois juntos somos ótimos, incríveis, poderosos, lindos, loucos, bons e adoráveis. E se você não prestar, então eu também não presto, por que nós somos exatamente iguais. O que chega a ser insultante. Você é um babaca. E isso torna de mim uma babaca. Mas somos iguais e somos diferentes e você me complementa e me enche de baboseiras até as orelhas. Você me transborda de tanto que me preenche com suas caretices, suas risadas desconexas, seus beijos cremosos, suas chatices de criança, seus jogos de menino, seus sonhos de maluco.

Eu queria que você fosse comestível, pra me entupir da sua doçura até ficar enjoada. Queria poder me lambuzar com o teu recheio até ficar com diabetes. Eu seria viciada em você, assim como já sou. E olha que lindo: Eu nem preciso te devorar pra que isso seja possível. E a sua pele tem uma textura tão convidativa que nada é melhor no mundo do que ter meus dentes cravados nela. E você é tão macio que seja a ser suculento. E me dá água na boca, mas vou parar por aqui antes que você mande me prender por canibalismo.

Você é lindo e eu sou uma ferrada por que te amo. Por que te amar ferra com a minha vida sonhada em cima de viagens solitárias, cidades vampirescas, textos ressentidos, saudades irracionais e chocolates em toneladas.

Eu não sei, mas acho que, finalmente, isso pode ser amor.

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