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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Emudecer-se

Silenciei-me. E, se fiz isso, foi para melhor me expressar. Ora, e quem disse que o ser humano só deve expressar-se por palavras? Uma grande tolice. Se tu soubesses... Oh, se tu soubesses das palavras que jamais te direi por falta de vocabulário que as traduzam...
Não! Não me aches insana, não! Apenas saibas que meu silêncio nao significa um "estou entediada". É absolutamente o contrário! Meu silêncio diz tudo aquilo que minhas vãs palavras não sabem dizer. E, se acaso tem dúvidas, desafio-te a decifrar o meu olhar. E, se isso te parecer difícil, decifras então os meus textos, pois eles são os únicos que contém fragmentos da minha alma e, se os decifrares, acabará decifrando a mim também.

Silencio-me. E, se faço isso, é para poder conter minha língua nervosa e prender com os dentes minhas idéias insignificantes. Ouso então, nesse silêncio de sábia contemplação, sentir o mundo ao invés de descrevê-lo. Olhar com olhos famintos os variados cenários da vida cotidiana ao meu redor e escutar com precisão os sons que este velho mundo emite. Observo o mundo de diálogos violentos e crenças intolerantes que geram palavras ainda mais afiadas - como punhais banhadas em veneno que se escondem na saliva de todos os homens ignorantes.

Silenciar-me-ei. E, se farei isso, é para conhecer alguém que, ainda que exista dentro de mim e possa até mesmo ser eu, não conheço. Decifrarei comportamentos alheios que jamais preocupei-me em decifrar e, seguindo esse raciocínio, decifrarei a ti que, sem saber, silenciastes meu coração rebelde e acalmastes minha mente perturbada. E, devido ao meu repouso verbal e minha sorte duvidosa, perceberei que o silêncio é um modo mais sutil e agradável de traduzir os sentimentos que não são traduzíveis em palavras.

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