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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Triste óbito invernal

Ele se fora.

Eu sabia que chegaria essa hora, mas não é como se estivesse exatamente preparada para isso. Quer dizer, não posso agir como se simplesmente tivesse toda a paciência e compreensão do mundo para ficar calma quando um dos meus melhores amigos simplesmente resolve ir embora. E nem é como se ele resolvesse de livre arbítrio. É mais como um dever cíclico, uma regra inabalável. Como se estivesse previsto em algum livro dogmático, como se eu e ele tivéssemos de cumprir com uma regra que, além de cruel, também é estúpida e irrevogável.

Ele tinha de partir. E por isso, simplesmente se fora.

E há pessoas que não o queriam mais por perto. Pessoas que o odiavam, que não aguentavam mais sua personalidade forte e seus choros intermináveis. E por que ter de partir logo agora? Por que ter de ir?

"É o curso natural das coisas...", dizem os filósofos. Mas quem disse que definitivamente tem que ser assim? Ninguém disse. Ninguém precisa saber. As pessoas são simplesmente insensíveis a ponto de aceitar sem questionar a partida daquele que se faz tão necessário a todos nós.

E a pior parte, é que o imbecil se vai. Com um sorriso de descanso e alguns sinais de cansaço. Ele simplesmente se manda e nem faz questão de se despedir corretamente. Não, ele não é do tipo que se despede. Muito pelo contrário, ele vai saindo à francesa, sumindo delicadamente, escondendo-se em passos breves e silenciosos de modo sutil, inibindo quaisquer transtornos daqueles que estão tão acostumados à sua presença.

Ele se fora. E todos insistem em ficar felizes com isso.

Menos eu.

E por que? Por que ele insiste em deixar claro que irá voltar quando nós dois - e todo mundo - sabe que isso vai demorar doze meses para acontecer de novo?
Por que ele precisa de descanso? Por que eu precisaria de descanso? Ele me bastava. E agora se fora, deixando-me jogada às flores inúteis da primavera. Como se isso pudesse, de alguma fora, servir de consolo para a minha saudade. Como se flores e bosques esverdeados fossem o suficiente para distrair-me da falta que ele me fará. Mas de certa forma ele tem um pouco de razão. Essas flores estúpidas e esse ar quente por muitas vezes tomam minha atenção de forma que esqueço completamente das sensações que ele me causa.

Mas não pretendo soar melancólica demais ou triste demais com a partida dele. Pelo contrário. Desa vez eu vou fazer diferente. Vou fazer de conta que nunca o conheci. Vou fazer de conta que nada foi real e me esbaldar nessa primavera, verão e outono que me esperam. É uma das minhas promessas anuais. Sempre é uma dessas promessas que eu faço.

Quer a verdade? Eu não me importo. Suma. Vá. Quem falou em saudade? ninguém irá sentir saudade. Ninguém sentiu. Ir embora é a melhor coisa que pode ser feita agora e eu não tenho absolutamente nada contra isso. Sério.


Mas já que estamos aqui, saiba que o pior de tudo, é sentir frio mesmo quando o inverno se vai. É carregar dentro de si a sensação de algo que se torna inexistente. É ter que esperar sem saber se aquilo realmente vai voltar, se aquilo realmente foi real. O mais difícil é ter que enfrentar o sol todos os dias esperando pela neve que não vai cair.

E isso, pouco a pouco, lentamente, se esvai. Como a estação que acaba num triste embalo cíclico duranto o alvorecer daquela que deverá nascer para que se possa esquecer da outra.

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