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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Terror em 3D

Fui na psicóloga. E isso definitivamente não é da conta de ninguém, mas eu fui. E não posso dizer que me arrependo. Não sei... Tenho uma certa simpatia por psicólogos. Até pensei em cursar isso, mas desisti. Por que pra ser psicólogo tu não pode ser forçado. Isso meio que nasce contigo, sabe? A gente nasce, cresce e assim como todos os dons, a psicologia vem junto. Daí a gente percebe que tem o dom pra coisa e todo mundo vem falar dos problemas e de repente nós temos a voz da razão e damos saídas e falamos frases de impacto. Acho que deve ser mais ou menos isso. Daí quando tu percebe, a vida da outra pessoa já foi modificada ou curada ou transformada ou sei lá. Só sei que é assim. Mas se for pra fazer apenas pelo dinheiro ou por que alguém pediu ou por falta de opção, não faça. Sério, se eu tivesse o poder de proibir as pessoas de fazer algo seria isso. Não façam psicologia se vocês não tem o dom da psicologia. Não façam. A não ser que vocês queiram, depois da faculdade, ir parar numa sala pobre de um hospital público de frente com uma menina orgulhosa e patética que acha que entende de alguma coisa desse mundo, exatamente como a minha psicóloga. Não decidi ainda se tenho pena dela ou apenas desprezo. Não gosto de desprezar as pessoas. Mas é que ela não tem o dom. Ela fica lá, com aquele cabelo tingido de loiro e as olheiras maiores do que os olhos castanhos, olhando para mim como se eu tivesse uma coisa muito grandiosa a dizer, enquanto que eu apenas me afundo naquele silencio constrangedor, como se estivéssemos dentro de um elevador e sem assunto algum sobre o qual conversar. Nada de piadas ou conhecimentos a serem compartilhados. Ela, desinteressada e totalmente perdida. Eu, tímida.

- E como tu tem passado?

- Bem

- E a família?

- Bem

Olhamos uma pra outra, sem o mínimo interesse em continuar. Ás vezes chego a acreditar que ela realmente tenta. Até faz aquela cara de "eu-sei-o-que-você-fez-no-verão-passado" até que eu olhe para o outro lado e faça movimentos involuntários com o corpo. E se ela sabe algo sobre estudo corporal, deve saber que esse é o ápice do meu "EU NÃO AGUENTO MAIS, POSSO IR?". Honestamente? Não sei se ela sabe. Se sim, me ignora. Se não, não me surpreendo. Daí ficamos assim. E ela faz questão de continuar. E eu realmente não gosto de explicar as coisas. Tipo, como eu posso simplesmente chegar e me abrir com uma pessoa que eu mal conheço? Não me abro nem com a minha mãe! E, pra ser sincera, acho que não tem muita coisa pra abrir, apesar de tudo.

Daí os trinta minutos passam e ela me diz pra voltar na outra semana e que tudo vai acabar bem. Claro, tudo vai acabar bem. Todo mundo diz isso. Mas como que eu posso explicar pra todo mundo que as coisas que tem me assustado são piores do que elas pensam? E que quando eu olho pra mim, é como se eu estivesse no cinema olhando um filme em 3D. Como se toda vez que eu olhasse pro meu corpo, eu estivesse usando um óculos 3D feito especialmente para viciados em filmes como Premonição ou Halloween.

Não dá pra explicar isso. Não dá mesmo.

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