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sábado, 6 de outubro de 2012

Boca-da-Noite

Meu horário preferido de todos os horários do mundo. Os cheiros mudam, o clima esfria, o sol se põe. O céu dá lugar ao azul claro, escurecendo gradativamente. Crepúsculo. Esse era o nome alternativo para o horário que me engole pernas a fora. O espaço de tempo em que tudo parecer ser possível, como que por mágica.

Tenho pra mim que, é quando o sol se põe, que as fadas cantam em uníssono, agradecendo pelo dia que tiveram. Vampiros fogem à espreita, aguardando o melhor momento para sair de suas tocas. Asas de anjos batem num canto dourado de adoração ao sol que se deita sob o horizonte. As trevas que ressurgem da madrugada anterior, tapam-me até os ouvidos com sua energia revitalizada.

Debruço-me sobre as grades de ferro que impuseram no cais do porto. No horizonte, águas escuras agitam-se, furiosas. Venta. E o vento, assim como o poente, ajuda-me a discernir o real do incerto. Um dos meus lugares preferidos no mundo. Um dos únicos lugares capazes de me fazer retornar à essência de mim mesma. Há um silencio reconfortante naquele lugar, de forma que apenas um fraco zumbido penetra nos seus limites sonoros. Os zumbidos são os barulhos agitados e confusos da cidade.

Lá, a poluição era transformada em poesia. Lá, a realidade estava caindo, em fragmentos de uma dor imperceptível. Devo ser eu que insisto em perceber beleza onde só existem trevas, mas que mal pode haver nisso? A magia que embala o crepúsculo dos meus dias é tão pesada que posso senti-la caindo sobre mim. Algumas gotas caem do céu, a chuva de verão banha minhas ideias, amedronta meus medos.

É o crepúsculo, sempre belo.

É a Terra que me embala nos seus braços, quando o sol migra para o oriente.


 


 


 

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