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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

It`s not a dream anymore...


Dia 22 de fevereiro de 2011, para muitas pessoas apenas um dia a mais de verao. Para mim e mais de mil outras pessoas, o fim de uma longa espera.

Como poderei descrever esse dia? Maluco? Cansativo? Incrivel?

Inesquecivel.

Otima palavra pra comecar a descricao.

Acordei as 4:30 da manha, fui tomar banho enquanto a chuva de verao ganhava forca la fora. Meu estomago revirava, minha mente girava. Labirintite. Uma das piores coisas pra se lembrar de ter minutos antes de sair. Entao eu tomei um Dramim, arrumei minha sacola de sobrevivencia a filas de shows, com salgadinho, agua, bolacha, protetor solar, camera e dinheiro. Fui.
Depois de uns 30 minutos de viagem, cheguei em frente ao aeroporto, encontrando barracas e umas 60 pessoas de pe, na frente do Pepsi on Stage. Devo dizer que alguns eram realmente excentricos - mesmo para uma cidade grande como Porto Alegre. Muitos acampavam desde a semana passada, alguns haviam chego de outras cidades, outros estados. O tempo? Nublado. Perspecitva do que fazer pelas proximas 15 horas? Nenhuma.
Meu irmao entao, dirigindo o carro, olha pra mim com um sorriso malicioso, se perguntando como algumas pessoas simplesmente conseguem ter animo pra fazer isso. Essa foi a primeira vez que eu me fiz essa pergunta tambem.

"Por que diabos eu tinha acordado tao cedo? Eles nem sequer sabem que eu existo. Francamente, isso e a coisa mais estupida que uma pessoa poderia fazer."

Com esses pensamentos, eu me despedi dele, ficando sozinha na fila completamente desnorteada. O que eu iria fazer agora? Me sentar e esperar? Dormir no chao? Cantar? Fazer amizade?

Nao sei.

Entao o tempo foi passando. Fiz algumas amigas, encontrei uma velha amiga minha, tirei fotos no aeroporto, cantei, corri ate o hotel onde a banda estava...

Ah sim, eu fui ate o hotel. Fiquei la, sentada no chao junto com mais 8 meninas, esperando ansiosamente por algum sinal inesperado de qualquer membro do Paramore. Entretanto, nao fez diferenca alguma, ja que nada aconteceu.

Mais tempo se passou, o sol estava queimando todo mundo enquanto algumas nuvens brincavam de esconde-esconde no ceu. Nublado, ensolarado, chuva, nublado, ensolarado, chuva. Um tempo instavel, uma paciencia quase esgotada e a ansiedade lutando na minha garganta.

18:00 - Os portoes abriram.

O seguranca pediu meu ingresso, enquanto as pessoas em volta de mim eram barradas por ter bolsas muito grandes e outras corriam desesperadamente pra dentro do tao esperado show. Eu nao fui barrada. Ele rasgou o papel, o que levou um seculo pra ser feito quando o que eu mais queria era ter voado la pre dentro.

Entao eu corri. Meio perdida, sem saber pra que direcao ir, mas fui. Fui onde ja tinham umas 100 pessoas amontoadas, gritando ansiosas. Algunas caras que corriam perto de mim gritavam: "Nos entramos! Nos entramos!" Algumas meninas choravam mesmo antes de comecar o show.Por um segundo eu pensei se realmente queria estar ali, se isso tava certo. Minha coluna doia por nao ter descansado o dia todo, eu me sentia fraca por nao ter comido algo realmente nutritivo. Valeria a pena?

Mais algumas interminaveis horas se passaram, enquanto aquele enorme lugar se amontoava de gente por todos os cantos, meninas e meninos de todas as idades e estilos se empurrando e tendo uma especie de luta livre pra conseguir pegar o melhor lugar. As luzes entao se apagaram, enquanto o oxigenio se escondia em algum lugar distante demais pra alcancar os meus pulmoes. Algumas pessoas desmaiavam, outras saiam antes da hora por nao ter condicoes de conseguir ficar ali.

A banda de abertura entrou.

Caras que eu nunca vi e sinceramente, nem me importava em conhecer, comecaram a tocar musicas de melodias estranhas, que eu nem me esforcei para entender. Algumas pessoas vaiavam - e eu tambem, enquanto outras cantavam e aplaudiam. A essa altura minha roupa ja estava encharcada de suor e agua jogada pelos outros fas. Meu cabelo completamente desgrenhado, minha cabeca ainda doendo.

As luzes se apagaram mais uma vez. A banda se despediu.

A plateia gritava: "We are Paramore"

Por longos minutos, alguns caras da producao arrumaram o palco e os instrumentos, enquanto meus tenis eram destruidos no meio da pista por todo mundo que estava empurrando e se matando ali. Eu gritava todos os tipos de palavroes possiveis, tentando fazer com que a tortura parasse, mas era inutil.
"Bom, deve ser assim que os shows funcionam, afinal."

A fumaca saiu.

A banda entrou.

Por uma fracao de segundo, o meu coracao parou de bater e a minha respiracao ficou presa em algum lugar dentro da minha surpresa. Eles estavam a 5 metros de distancia de mim. Jeremy, Taylor e ela. Hayley Williams.

Tao palida, tao perfeita. Cantando e falando com todo mundo. Algumas garotas do meu lado choravam. Eu fiquei paralisada enquanto a musica tocava e todo mundo pulava, acompanhando em coro. Nao me lembro por quanto tempo fiquei assim, mas sei que foi bastante tempo.

Meus pulmoes doiam, eu nao sentia minhas pernas e ondas de calafrios passavam pela minha espinha a cada pulo que alguem da banda dava. Eu segurei a mao da minha amiga, tentando dar e obter um pouco de seguranca.

"Se eu morrer aqui, ninguem vai me ouvir gritar, ninguem vai me ver cair. Mas eu vou estar olhando pra ela, ouvindo a voz mais linda do mundo, respirando o suor de milhares de fas. Seria um belo final dramatico pra minha vida."

Nao, eu nao poderia me deixar desmaiar ou morrer ali. Nao sem antes gastar o ultimo fio da minha energia pulando e gritando o maximo que eu pudesse.

E foi isso que eu fiz.

Cantei, chutei, soquei, gritei, chinguei, pulei, aplaudi. Mesmo sem ar, mesmo desidratada, mesmo sem sentir meus ossos, eu continuei ate o ultimo momento.

No final, eu consegui sair intacta, com os ouvidos zunindo. Me joguei na grama, morrendo de frio, talvez com febre, mas muito, muito feliz. Cansada e um pouco irritada, mas feliz.

Quando tava chegando em casa, meu irmao novamente perguntou como alguem se animava a fazer isso, com uma cara de "voce-so-perdeu-tempo" . Mas tudo que eu conseguia falar era o quanto tinha valido a pena, cada novo hematoma, cada minuto de ocio na fila, cada segundo sufocando por agua e ar. Eu tinha finalmente, visto a minha banda preferida na minha frente. Cantando comigo, falando comigo.

Eles nao sabem da minha existencia.

Mas eu simplesmente fico feliz de saber da existencia deles.

E se eu tivesse que fazer tudo de novo, eu faria exatamente igual.

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