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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Alguém

Acho... Acho que o problema sou eu. As pessoas não podem simplesmente ser tão ruins assim, né? Deve ser eu. Só pode ser eu. Taí a explicação. Sou eu! Eu sou o graaande problema matemático, filosófico e comprovado da minha própria existência. Todas as outras pessoas são ótimas, eu é que não sei lidar com isso. Pronto, achei o motivo. Por que não há outra explicação. Entende? Não há! Não é possível que todas as outras 5,9 bilhões de pessoas sejam tão insuportáveis. Não... O problema dever ser comigo. Eu, eu que sou a insuportável que foi jogada nesse planeta sozinha só pra aprender a ser mais legal com os outros, mas aprendi mal pra caramba. Aprendi mal pra cacete, na verdade. Eu sou muito filha da puta com quem me enche o saco e me orgulho disso. O único problema é que eu sou assim com todo mundo. Todo mundo enche meu saco, todo mundo é uma bosta. As pessoas me cansam. ME CAAAAAAAAAANNNNNNSAM. Ta entendendo? Eu olho pra esse bando de gente com cara de cu e me dá vontade de dormir. Daí eu penso nessas historias de apocalipse zumbi e de ataques de monstros e de caras que comem cérebros... Será? Só pode.

Se o problema não sou eu, então vai ver que o mundo é um lugar pós apocalíptico lotado de seres mortos. Ô gentinha repetitiva e sem graça. Ô gentinha pra inventar desculpa e me entupir de decepção. É, to puta mesmo. Por que se tu resolve abrir teu coração tu só te dá mal nessa porra toda. Sabe o quê? Eu perdi muito da minha vida sendo uma menininha boazinha e amorosa e complacente e bonitinha que usa palavras certinhas. Mas eu cansei, porra. Eu cansei. Se eu fosse homem ninguém ia ta pensando "Bah, que cara desbocado..." Óbvio que não. Iam é tá achando graça e reverenciando o filho da puta só por que teria um pinto no meio das pernas. Mas não... Não... Eu, eu com todo o poder que me foi concedido com uma vagina, acabo levando pedrada por ser mais ousada que uma e outra menininha sem sal que desfila por aí. Blé, que nojo. Me dá enjôo de pensar nos cilhos postiços piscando e o biquinho: "Quero te dar, mas sou meiga". Ah, vão pro inferno!

Meninas, já passou a época né?

Daí vai vir um marmanjo bancando o bom moço. Daí vem aquelas fotos no facebook dizendo que menina tem mais é que ser delicada e agir como princesa. Quer uma noticia? A gente não vive num conto de fadas. Eu não sou uma princesa. E, certamente, tuas ações não te tornam um príncipe. Na verdade, duvido muito que até um homem tu seja, mas tudo bem. Não cabe a mim questionar a masculinidade ou maturidade de ninguém, sou neutra. Neutra e agressiva, se assim me permitirem. Homens... Ô bandinho triste que vocês são. Corromperam nossas virtudes, confundiram nossas cabeças, impuseram nosso comportamento. E o pior é que o meu gênero é tão, mas tão influenciável, que eu sou obrigada a sofrer respingos disso até hoje. Maldito passado sexista, maldito preconceito, maldita gentinha.

Por que a gente tem que ser um bicho tão ruim? Eu não suporto as pessoas e sei que elas não me suportam! Eu sou estúpida, mau humorada, arrogante, metida, superficial e cheia de manias e trezentos mil adjetivos ruins. Assim fica difícil, né? De repente tu cai num mundo maluco corrompido pela maçã do pecado. E teus pais que já foram mal ensinados te ensinam errado. E teus amigos que já foram mal influenciados, te influenciam errado. E teus amores, que são mal educados e mal influenciados te enchem de influencias e comportamentos estranhos. Daí a gente polui, a gente mata, a gente come, a gente estupra, a gente rouba, a gente mente, a gente bate, a gente foge, a gente chora, a gente briga, a gente magoa, a gente fode com tudo e isso é normal. E isso tá certo. Por que errar é humano. Por que fuder com tudo faz parte do teu crescimento e tal...

Tá certo isso? Pode isso? Por que eu continuo me sentindo deslocada. Eu quero conversar com alguém. Sabe? Alguém. Não qualquer alguém, mas aquele alguém. Que vai falar comigo sem precisar de palavras, mas com muitas palavras. Que não vai ser porco ou machista ou sujo ou nojento. Que não vai ser insuportável. Que vai fazer de mim suportável. E a gente vai falar sobre muitas coisas insuportáveis juntos. Mas cadê? Pô cara, olha pra mim aqui no meio dessa sujeira. Eu to limpa! Tirei minhas máscaras e esqueci dos meus medos. Eu tô aqui cara, eu tô aqui esperando por ti. Chega logo, cara! Tem vezes que eu fico muito puta por que me sinto sozinha. Só que me sentir sozinha faz parecer que eu sou mais uma dessas menininhas hipócritas e eu não sei ser assim. Daí eu vejo tudo turvo e sujo e sem graça mesmo, mas no fundo eu até que sou legal. Se tu olhar do ângulo certo, pode até me achar bonitinha. Pô cara, eu tô aqui te esperando, me enxerga logo. O sol ta quente, a sujeira fede, as pessoas me cansam. Então trata de correr enquanto eu ainda espero. Não se atrasa não, não me decepciona não.

Tô com medo de pegar esse vírus e me fundir nessa gentinha sem graça também...

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