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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Só que não

Não respiro. O mundo dá voltas e voltas, sem nunca sair do lugar. Vê? Eu continuo imóvel. O planeta gira, o sol gira. Eu continuo imóvel. Minhas pernas estremecem, quase sinto um calafrio. Há um monstro dentro do meu estômago que sopra sem parar. Posso sentir meu corpo inteiro se revoltando em uma luta interna que não compreendo. Meu peito afunda, eu sinto dor. Por que meu coração dói? Já não sou mais a garota triste dos textos apaixonados. Então por que continuo presa em contos heroicos do século XIX? Tá doendo.

Minha cabeça está pendendo para o lado, com um peso absurdo a cima do corpo desproporcional. Passei o dia inteiro comendo como uma morta de fome. É um vazio que ultrapassa os limites fisiológicos do meu organismo. Então eu devoro comida e mais comida. Nunca parece ser suficiente. Minha barriga inchada é a prova de que meu estomago deve estar de saco cheio. Pare com isso, ele diz. Você esta exagerando, ele diz. Não dou ouvidos. Preciso preencher essa angustia com algo físico. Tem uma bola na minha barriga que eu não reconheço. Quase me sinto grávida. As pernas estão maiores, os braços estão mais fortes. Passei o dia tentando puxar o ar pra que ninguém visse o tamanho do meu abdômen, mas foi em vão. Escrevo isso e me pergunto o que aconteceu comigo. O que aconteceu comigo?

Daí eu lembro que parei de ir na igreja. Parei de ir na igreja, mas não parei de ter fé. Mas será que Deus liga? Nos últimos quinze minutos eu percebi que ler a bíblia não faria muita diferença, que dar o dizimo não ia melhorar nada, que criar esperanças só iria me angustiar mais e varrer toda esse monstro pra debaixo do tapete onde sempre deveria estar. Mas não, não... Ele resolve invadir meu estomago e me fazer comer como um animal faminto. E não há nada que prenda minha atenção, nada que faça sentido. Juro que eu tentei. Tentei mesmo me ocupar, me tornar útil, fazer algo de bom. Fui jogar vídeo game, tava chato. Fui ver How i met your mother, tava chato. Fui ler Richelle Mead, tava chato. Facebook? Chato. O ar começou a sair devagarzinho, num processo bem simples... E eu murchei como um balão furado. Eu ainda posso ver cada sorriso queimando no ar. Esse texto sou eu fazendo um "iiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu" numa dança atrapalhada pelo vácuo, enquanto o que resta de mim sai por todos os buracos. Por todos os buracos que alguém furou.

Qual o objetivo da minha vida? Qual o objetivo do mundo? Não sei! Sei que dói. Doer é um verbo... Eu Dôo. Dôo toda. E não digo isso do verbo "doar", mas sim do verbo "doer". Eu to doendo inteira, de dentro pra fora. É dor de alma, dor que sufoca, dor que não se sente. Não é queimação, não é enxaqueca, não é dor de dente, não é nada físico. É um buraco no meio do estomago lotado, como um tornado. Ontem tudo fazia tanto sentido, mas agora não faz mais. Nada mais faz. Tenho medo de ser esquizofrênica. Medo de estar enlouquecendo cada dia mais... Sinto que alguém precisa conversar comigo, mas eu não estou ali. Eu nunca estou ali. Ou será que sou eu que preciso conversar com alguém que nunca está aqui? São tantas dúvidas. Será que todo mundo fica maluco que nem eu acho que estou ficando? Por que todas essas perguntas estão me enlouquecendo!

Onde estão os meus sonhos? Onde estão os meus medos? Estou desaparecendo, pouco a pouco... gradativamente o balão vai esvaziando... Eu sou um balão tão triste...

Minha vida é linda e maravilhosa, só que não. Pensar em coisas bonitas me fez lembrar do lema daquela festinha brega que eu fui semana passada: Tudo que era o oposto das musicas tocadas era vindo de um "só que não" do ladinho, pra dar mais estilo ou algo assim. Daí eles colocaram lá: "Ah, olha que legal, vai ter Jack Johnson – só que não". Por que não ia ter Jack Johnson, ia ter Jack White. O mundo inteiro está conectado, só que não. Eu me sinto plena, só que não. A profundidade tem melhorado muito o meu crescimento... Só que não. Meus sorrisos são recheados de plaquinhas dizendo um "só que não". Quando eu digo que não me importo, você deveria entender como um "só que não". Eu me importo, eu sempre me importei e isso me mata todos os dias.

O que eu faço com tanta energia sabotada pela desilusão? O que eu faço com tanto amor destruído pelo orgulho? Onde eu coloco todos os meus sonhos que, de tão realistas, cansaram de existir? Onde eu acho um objetivo quando as coisas parecem completamente fora do lugar? Arrumo um jeito – só que não. Não tem jeito. E enquanto essa angustia não passa, eu escrevo. Escrevo algo porcamente escrito, como uma analfabeta depressiva e levemente inclinada à obesidade mórbida. Mas escrevo. Quando o planeta desaba e o apocalipse se aproxima, eu escrevo. Olha, de repente surge um feixe de luz no extremo sul. É a minha pontinha do arco-íris dizendo que ainda há esperanças. Mas, honestamente, não sei o que fazer comigo. Acho que sou um caso perdido. Não tem mais espaço pra colocar a minha alma, a minha dor, a minha fome e a minha felicidade. Preciso de outros corpos para me alojar inteira, por que só num eu não to cabendo. Como funciona daí? A gente explode de felicidade num dia e de vazio no outro. Eu to explodindo, sempre.

Cadê o maluco que vai cortar o meu fiozinho vermelho e me fazer ter um segundo sequer de normalidade nessa vida? Por que viver explodindo e morrendo e vivendo de novo tá começando a me preocupar. Nessas horas, penso mesmo é que vou enlouquecer sozinha. Daí esse fogo que às vezes arde como o sol e às vezes apaga para sempre, vai acabar me adoecendo. E eu vou engordar e ficar cheia de espinhas, com a pele ainda mais oleosa. E ainda sinto fome. Os anjos lá em cima devem olhar e balançar a cabeça, como um aceno triste de quem vê uma causa perdida. É que quero te comer. Tem um buraco enorme no meu estômago e você é tão cheio de nutrientes e proteínas que eu preciso te devorar inteiro. Daí a gente pensa que ama, mas na verdade não ama... Que que eu faço com esse amor que foge dos meus dedos quando eu quero acreditar que é de verdade? Eu amo aquele maluco. Mas dai percebo que o amor me cansa, me deixa com sono, exausta e louca de fome. Quero outros sabores, outras texturas.

Tá ouvindo esse barulho? É a musica da tv da sala que toca enquanto minha mãe adormece. É o cachorro do vizinho latindo por que viu alguém se movimentar. É o carro de alguém que se move em um destino certo pelas ruas vazias. O mundo se movimenta em círculos. As pessoas se programam a exercer suas funções com um limite determinado de tempo, recarregam as baterias, sorriem como o esperado e continuam. Eu preciso ir dormir, deixar meu fiozinho ligado na tomada à espera de um dia lindo que irá amanhecer, cheio de estudos e sorrisos. Meu tanque tá cheio, a noite tá chegando, as férias já acabaram. Tá na hora de eu levantar minha bunda flácida e ir pagar impostos o dia inteiro para melhorar o futuro do país. Só preciso acabar esse textinho patético de ensino médio que vai acabar ignorado como todos os outros... É engraçado... Eu tenho a liberdade de expressão. Mas essa liberdade não vai me libertar de nada, apenas me dar o direito de falar sobre a liberdade que de fato não tenho. Não é meio doido? É um mundo meio Matrix.

A noite foi maravilhosa, amo essas coisas, a gente poderia ter sido muito feliz, eu acredito que tudo um dia passará, nós sabemos que essa é apenas uma fase rebelde de adolescente, a faculdade tá ótima, eu tenho certeza do que quero fazer, amanhã o sol brilhará mais forte, não há problema algum, boa noite!


 


 


 


 


 


 


 


 

- só que não.

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