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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

É castigo ou não é?

A gente fez questão de se conhecer depois que já se amava. Não sei direito como explicar isso, mas vou tentar ser bem direta: Eu o amava antes de conhecê-lo. Acho que tem mais ou menos a ver com aquela história de destino e tal, quando dizem que nossos caminhos já estão cruzados e simplesmente nos encontramos por que Deus quer ou porque tinha que ser assim ou porque já estava escrito desse jeito. Não sei, mas sei que o amava. Desde aquela unha torta do minguinho do pé direito até o último fio do cabelo castanho claro que sempre faz questão de se rebelar quando o dia fica chuvoso. No fundo eu sei que sempre esperei por ele. Sabe, tipo quando a gente encomenda algo na pizzaria e depois de uns minutos os caras batem na nossa porta trazendo exatamente tudo que queríamos. Tá vou ser sincera: não foi tudo que eu queria. Pra falar a verdade, eu sempre preferi homens mais baixos e com o cabelo preto. Ah e não se esqueça da pele limpa – e quando eu digo isso estou me referindo àquela barba rala que dá uma aparência de mendigo e que, honestamente, eu nunca gostei muito. Quer dizer, isso é tipo quando a gente pede uma pizza metade quatro queijos, metade prestígio e recebe uma metade alho e óleo e metade banana com canela. Mas aqui está o que eu recebi: Um homem de cabelo castanho claro quase louro, uns quinze centímetros maior do que eu e aquela linda barba de mendigo. Deve ter tido algum problema com o meu pedido, talvez eles tenham confundido com um de uma amiga minha que sempre amou caras quase louros e pizza sabor banana, mas eu não me importo mais com isso. Na verdade eu fiquei puta. Sério, fiquei puta mesmo quando vi esse homem com quinze centímetros a mais do que eu tirando o coração de dentro do meu peito e guardando dentro da gaveta do criado mudo dele. Um criado mudo muito feio, se você quer saber. Mas eu não me importo. Tudo que me incomoda é que ele guardou aquele órgão meu lá e agora eu não sei mais como pegar de volta. E sabe, isso irrita às vezes. Tipo, fala sério, o cara é um completo idiota. Que tipo de homem aos 23 anos de idade ainda não decidiu sobre qual faculdade cursar e fica olhando com cara de idiota para aquelas pranchas estúpidas em lojas de surf? Nada contra surfistas, mas é que às vezes é bom termos outros interesses, sabe. E a propósito, ele é muito imbecil. Sério. Que tipo de homem aos 23 anos que nem faculdade concluiu ainda, consegue ouvir bandas daquele tipo? Quer dizer, ele escuta Armandinho. Porra, ele me fez até uma serenata com uma música daquele cara. E eu nem sabia a letra, por que aquilo não é música. E quer saber de mais uma coisa? Ele me irrita. Deus, como ele me irrita. Que homem mais burro, estúpido, arrogante, ingênuo, confuso, indeciso, orgulhoso, egocêntrico, vaidoso, patético, infantil, irresponsável, grosseiro e completamente, totalmente insuportável. Isso só pode ser algum tipo de castigo. Não, sério, Olha bem pra minha cara e me diz: Isso é um castigo ou não?

Sei lá, eu nunca fui uma mulher crítica. Nunca falei mal de ninguém e tal. Tá, só quando a pessoa merecia. E tudo bem, pode me chamar de bipolar. Mas aquele homem, ah ele me tira do sério. Mas eu já amava aquele imbecil antes mesmo de tê-lo visto. Agora tu me entende? Quer dizer, se não fosse amor, eu já poderia ter pegado meu bom senso minha capacidade mental e minha dignidade e um ônibus econômico pra São Paulo, e ficar lá tentando ganhar a vida com um diploma estúpido de publicidade.

Mas não, aqui estou eu. Completamente apaixonada por um imbecil. E o pior é que até isso eu amo nele. Agora olha bem pra minha cara, mas olha bem mesmo e me diz: É castigo ou não é?

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