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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Choremos

Sentia-me só e cansada. Não estava propriamente inclinada a ter estudos mais complexos de um assunto que não via interesse algum. E isso se tornava tão cansativo e repetitivo quanto à aula escassa de inglês que meu dinheiro poderia pagar. Corrijo-me: o dinheiro de meus responsáveis. Eu e essa injustiça de ser estudante, na minha trágica emoção de manter-me dependente dos mais velhos. Tão propensa a rupturas, tão cuidadosamente triste. E chovia... Chovia... Mas eu não tenho guarda-chuva, não tenho um casaco quente e não tenho pra onde correr, então mantenho-me forte e determinada em baixo dessas gotas frias de novembro. Alguém chora lá em cima, vês? Alguém está chorando toda sua dor, enquanto eu, ignorante do que acontece, recebo essas lágrimas puras do ferimento abatido. Mas por que será que choras? Será dor de dente? Dor de cabeça? Dor de amor? Não... Não quero que seja dor de amor. Essa dói demais e demora demais para cicatrizar. Portanto, sem dor de amor, por favor. Prefiro pensar que é uma dor insuportável de dente, algo impossível de conter dentro de si e que por isso causa a irritação nas órbitas do ser misterioso que chora a cima de nossas cabeças. Chora então, oh gigante tristonho. Eu não te prometo nada, mas asseguro que ficarei aqui, tentando desvendar-te enquanto acolho para mim a tuas lágrimas. Mas por que elas têm de ser tão frias, tão cortantes? Sinto frio, não sabes? Sinto frio e é por culpa tua e da tua dor suplicante. Mas não te culpo, por que há certa felicidade nisso. Não para ti, mas para mim. Sinto-me idiota, mas não posso simplesmente ignorar o sentimento de compaixão que me sobressalta ao peito: felicito-me! Sim, sim sinto-me feliz em sabê-lo triste.

Oh, não vês então o que eu vejo? Tu és um gigante, uma criatura muito mais forte do que eu, e, ainda assim, choras. E se tu, que és gigante e não teme nada de maior que exista nesse mundo pode ter o coração destruído em pedaços, que direito tenho eu de punir-me por sofrer? Ah, engano-me, é dor de dente. Tens razão, todos nós temos dor de dente. Mas não temos culpa se de repente o dente é engolido pelo coração e os dois se partem em uníssono na celebração lamuriante da dor. Na minha compaixão, sofrerei contigo meu amigo. Não te conheço e nem sei que tipo de criatura realmente és, mas se insistes tanto em chorar, chorarei junto a ti, como a boa amiga que te serei.

Choremos, choremos.

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