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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Lua Azul

Agosto se vai, e com ele, morrem meus sonhos adiados. Eu pude ver as estrelas se distanciando, como pontinhos mortos no céu. Não era eu, era você. Eu pude ver a magia e puder ficar cega também. Mas então lembrei, de tudo. O ciclo incessante do nosso ciclo circular. Meio redundante, meio maluco, mas tudo bem. O ciclo morre quando a repetição enjoa. E se eu não enjoar, o ciclo nunca acaba? E se eu me apegar, como vou fugir? Não era eu. Era você.

Entra setembro, uma passagem mística de mês para mês. Duas luas cheias tomaram o céu de agosto e, segundo os mitos, é uma resposta feminina do universo para a abertura. Claro, claro que tem a ver com aberturas. Tudo que é feminino tem de vir com algum tipo de buraco embutido, quase como uma sátira à nossa amada vagina. Não sei se eu sou doentia ou se são as coincidências que realmente fazem sentido. Não consigo acreditar em coincidências. Não consigo suportar que meu futuro seja tão incerto que eu precise acreditar em determinadas forças mágicas para embalá-lo.

Onde estão os meus sorrisos de verão? Ela está do outro lado do mundo sorrindo com desconhecidos. Ele está na vizinhança ao lado, beijando alguém que pensa ser sua para sempre. Mas não será. Meus sorrisos se foram com pedacinhos de mim que se dispersaram pelo universo, como estrelas que carregam o brilho da minha alma. Ontem eu achei que tivesse chorado de saudade, mas não foi. Era ódio mesmo. De súbito, meu eu selvagem rasgou minha pele e me deixou em carne viva depois de um banho gelado e violento. Minha mãe não entendeu, eu também não.

Mas sinto que algo aconteceu. Quase uma epifania, creio. O céu ficou mais distante e eu pude sentir a brisa morna que veio do norte. Meus braços se abriram em total confiança e eu pude sentir. O pressentimento de que coisas boas hão de vir. O pressentimento de que o fim do mundo será apenas o início. Um recado da lua para que eu fizesse meus preparativos e me despedisse devidamente. Olhei para trás, com certa nostalgia. A criança que chorava escondida no cantinho entre o fogão e o armário velho estava aos soluços. Sorri. Ela não sabia pelo que chorava, mas também não sabia que em breve acabaria. Vi flores nascendo pelos caminhos que nunca percorri, mas já conheci em sonhos. Uma estrada de pedras íngremes ameaçava se partir em rochas pontiagudas conforme os trovões da tempestade próxima se intensificavam. Olhei para trás e fiquei, de súbito, feliz. Não me importava mais, o pior já havia passado.

Lá em cima, o brilho da lua se intensificava e, nos meus braços, pude sentir o leve queimar azul. O planeta começou a girar ao contrário. Meus monstros estavam calmos, por pouco tempo. A pele em carne viva que fora destroçada na noite passada, agora cicatrizava. Os anjos voavam em círculos no céu negro. Suas asas brilhavam, assim como eu. A mudança havia chegado, junto com meus sorrisos de inverno. Tardiamente, deixei que meus lábios se curvassem para cima, para demonstrar que podia senti-los, os sorrisos. Tardiamente, agradeci. Era noite de lua azul, todos os pedidos seriam atendidos. A noite em que os velhos ciclos haviam sido quebrados para começar outros. Mas não seria mais assim. De agora em diante, continuarei apenas em linhas retas, curvas, paralelas e um pouco incertas. Mas nada de círculos.

Ousei apenas mais um olhar para trás, imaginando o que poderia se passar antes que tudo se perdesse. Pude ver minhas estrelas dispersas em uma nova dimensão. Meus sorrisos eram guardados em lápides de ouro, num cemitério distante. Os fantasmas felizes acenavam tchau, o que eu vi como um bom presságio. Meu passado se despedia com amor. E então eu segui. Prometi a mim mesma que tentaria nunca mais olhar pra trás. Tentaria.


 

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