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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Questões Existenciais #3

Odeio convenções sociais. Se prestarmos atenção, toda essa merda de status vem de algum lugar da ignorância humana. E por que todos esses costumes bregas sobre o que devemos fazer, como devemos nos vestir, onde devemos ficar, como devemos caminhar e etc e etc e tal? Mendigos não precisam disso. Nem de casa eles precisam. Só de um cigarro e uma garrafa de cachaça e tá tudo bem. Obvio que tá tudo bem. Tá tudo bem pra todo mundo. A Dilma continua no poder, o Patati e o Patatá continuam no ar e o meu vizinho continua sendo um imbecil ganancioso. E que merda a gente tem a ver com isso? Nada! Nada mesmo. Enquanto minhas colegas se afundam no prestígio e no luxo, alguns amigos meus que eu ainda não conheço estão dormindo de baixo de algum viaduto, espalhados pela cidade. Enquanto eu escrevo nesse netbook e reclamo da minha vida pacata e levemente burguesa, existem pessoas que se alimentam com o lixo do restaurante e outras que nem isso conseguem. Enquanto eu falo mal da falta de criatividade culinária da minha mãe, existe uma criança em Viamão que literalmente se alimenta da foto de uma lasanha, imaginando o gosto do qual nunca provou. E eu sou uma merda por isso, igual a todos os outros burgueses alienados e falsos revolucionários que pensam que sabem de alguma coisa de merda de vida. Por que ninguém sabe. E todo mundo tem milhares de problemas minúsculos que servem para disfarçar o tédio cotidiano de quem tem tudo e não dá valor. E todo mundo sabe ficar com cara de bunda por qualquer coisa que vê e não gosta, que lê e não concorda, sem nem ao menos pensar na sorte que tem. Por que isso? Por que esse costume tão feio de desvalorizar tudo de precioso que conseguimos ter? Por que eu tenho que ler um artigo no jornal sobre uma menina de seis anos que se alimentou de papel e pegou intoxicação com a tinta da impressora pra poder ligar essa revolta toda? Por que a gente não consegue simplesmente se importar com as coisas enquanto elas não batem de frente na nossa cara? Por quê?

E mesmo sabendo que não vai adiantar nada, nem mudar nada na porra da vida de nenhum idiota, eu continuo escrevendo sobre essas coisas, como se isso diminuísse algum problema. Como se matasse a fome de todas as crianças da África ou como se bancar a socialista séria fosse o suficiente pra acabar com o capitalismo cruel. Não adianta nada. E no fim, eu sou mais uma burguesa pacata, escrevendo sobre minha vida entediante. E eu vou ficar consumindo coisas que não preciso e guardando dinheiro que não vou usar e invejando coisas que nunca precisei ter. E quanto às convenções sociais? Ora, o que seria da sociedade sem elas? Vamos continuar dançando de sapato alto, mesmo que doa, apenas para sermos aceitas no mundinho insano da moda. E vamos continuar borrando nossos rostos com maquiagem para fazermos de conta que temos peles perfeitas. E vamos continuar puxando saco de qualquer pessoa que possa nos promover. Somos hipócritas e nojentos.

Minhas boas vindas aos recém-nascidos. E que eles sejam socialmente felizes nesse mundo de dementes!


 

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