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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Xeque Mate

Chove lá fora.

Ao fundo, uma música de Regina Spektor.

Sinto-me tão só, que quase posso ouvir o uivo de lamentação que sai por entre meus dentes. Mas então, algo explode. Faíscas, fogos de artifício, como o raio de milhares de sóis. Oh e por que agora? Não havia planejado absolutamente nada... Algo pulsa no meu sangue. O que é? Não, não pode ser... Acho que é amor, mas tenho medo. E como explicarei isso? Não devo explicações. Mas sinto-me tão... Incerta. Como se cometesse um crime. Meu Deus, por que fizeste isso? Não! Não é culpa tua, é minha. Inteiramente minha. E o que dizer? Não digo nada, quando me dou por mim já estou a cometer o crime. E como é doce o sabor da maçã proibida. E como é macio o toque do esplendor. Pra onde fui nos últimos meses? Não fui! Eu estive aqui, sempre. Experimentando outros sabores, indo a outros lugares, segurando outros fantoches. Sou tão má. Será que fui batizada? Porque sinto-me dilacerada pelo pecado original. Fui uma criança tão perversa, e a experiência da quase morte serviu para que despertasse isso novamente. Sou tão má...

E como é inebriante o aroma do teu veneno. E como é forte o poder que tens sobre minhas veias. Mas, oh, onde estará o meu amor, a minha cura? Se foi, junto com a salvação. Está perdido por entre as árvores do paraíso, enquanto eu, fraca, ardo nas chamas violentas do inferno. Pecadora! Pecadora! Como pude? Mas fiz. E como dói ser a vilã. Como dói ser a manipuladora. Sou tão má que chega a doer cada parte de bondade que ainda me restava. Não vês, meu querido? Sou uma bruxa disfarçada de fada. Te matarei aos poucos. E como é glorioso ser a predadora. Como é satisfatório enrolar o rato na minha cauda e vê-lo agonizar no meu veneno, meio morto e meio encantado. Meio amor e meio desgraça. Sou tão má. Cada célula viva em mim, grita por ti. E como é maravilhoso vê-las calar em desejo. E como é triste saber que, antes disso houve algo. Como uma explosão rápida que torna-se diminuta quando comparada ao poder atômico de Einstein.

O que houve comigo? Procuro por mim, mas não me acho. Assim como tu me buscavas em vão, eu também o faço. E fico assustada ao encontrar a criança banhada em sangue que me atormenta. Oh, meu pequeno passado, por que és tão cruel? Por que és tão encantador? Abomina minha vida descontroladamente. Não tenho controle, não tenho! És tão solitária e tão dócil a minha pequena traidora. É tão belo esse pequeno monstro, que até mesmo eu preciso resistir a este encanto.

Oh, e como é triste sentir saudade de sentir falta de alguém. E como é irônico ver as situações se invertendo, como em um tabuleiro de xadrez. As peças dançam, mas eu, na situação de torre, caminho de um lado para o outro, meio perdida, meio astuta. Matando peças, mirando o rei. Na maldade absoluta de se ter o poder que não deveria se ter jamais. Venha, venha até mim minha criança, usa do meu corpo pra satisfazer tua maldade nata. Crava tuas unhas na pele do inocente. Isso te satisfaz. Isso me satisfaz.

Sinto-me tão só, tão patética...

Sou tão patética...

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