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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Vento no litoral

Acordei de ressaca às seis horas de domingo. O sol me incomodando, entrava casa a dentro pelas frestas da janela. Que que tinha acontecido na noite anterior? Lembro de umas garrafas de Vodka, um gole de Ice, uma batida de morango bem doce pra disfarçar o azedo da semana. Lembro de uma tontura, uma noite mal dormida. O gosto ruim da minha saliva, que entregava a falta de higiene bucal. E que saudade! Que saudade de quando meus sábados e domingos e sextas eram passadas de forma mais suave. Textos que brindavam a contemplação do teu sorriso. Músicas que embalavam nossas lembranças conturbadas. Em outra época, eu acordaria às onze de domingo com vontade de correr pro meio dos teus braços. Em outra época, eu estaria com o peito inflado de felicidade e os sonhos transbordando pelos ouvidos.

Eu te dizia que a vida era bonita e a gente não tinha que desperdiçar nada. Tu me dizias que as coisas eram do jeito que tinham de ser. Eu queria ser criança pra sempre. Tu dizias que tínhamos de crescer. E a gente ficava ali. Não tinha nada disso. Não tinha esse gosto ruim, não tinha essa enxaqueca ou esse sono pesado. Era tudo muito leve. E daí o Renato Russo me lembrava que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, e era isso que eu te dizia sem o menor pudor. E tu ainda me ouvias, sem o menor medo. E a gente amava, por que sabia que não haveria um amanhã. Mas... Mas olha só, as coisas mudaram. Tu vês? Aqui estou eu, jogada no que me restou da minha diversão fugaz. Se me diverti? Honestamente, não sei. Mas o tempo passou bem rápido. E amanhã tem mais. Por que a gente tem mais é que viver como se não houvesse o amanha, mas eu gosto de esperar pelo que vai vir, depois de tudo isso. Tenho curiosidade demais. Que será que acontece depois dos créditos finais?

Lembra do barulho que a gente fazia? Eu não. Só lembro de cenas sem áudio. Como era mesmo a tua voz? Como era mesmo a tua risada? Algo entre o belo e o detestável. E meu amor por isso cobria tudo como um véu fino. Daí o véu se partiu e restou o real. Acho que o real dói ainda... E o tempo passou, levando o véu, a lembrança, o áudio e tudo embora. Espera, acho que eu sei o que acontece quando acaba uma história. Outra se inicia. Isso não é motivador? Me motiva, ás vezes. É difícil de ficar feliz com essa solução quando o Renato vem e me diz que "existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem já que você não esta aqui e eu devo cuidar de mim. Lembra que o plano era ficarmos bem?" É isso. É isso que o Renato Russo vem e me diz, como se soubesse o que fala. Cara desgraçado esse que fica se metendo na minha vida. Ele e os cavalos marinhos que ficam girando na minha cabeça noite e dia.

E ali eu continuo, naquele colchão duro e a coluna doendo. Não sei por que escrevo essas coisas, mas é que ouvir legião sempre me deixa com uma vontade louca de escrever. Sei lá, juro que já tinha esquecido, mas por algum motivo, vem uma música e me faz lembrar. Daí eu fico triste e a saudade me embala como uma mãe a zelar pelo sono do filho. O toque suave da lembrança faz todo o grotesco do mundo parecer insignificante e isso serve pra acalmar meus nervos. Olha, tem um sorriso que brotou aqui contrastando com a lágrima que não caiu. Podia até ser poético, não fosse pela nossa insensibilidade. Tu vês nexo nesse texto? Eu não vejo. Desculpa, deve ser a dor de cabeça. É que a música me deixou mesmo com muita vontade de escrever. Tô sem tempo, vou ir tomar banho. Fica aí com o Renato pensando no que eu pensei. Mas fica bem. Tá?

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