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domingo, 6 de maio de 2012

Simplicidade

Vejo essas pessoas discursando sobre a vida, sobre as alegrias fáceis, sobre o cabelo despenteado, sobre como beijar é bom. Vejo essas pessoas agindo conforme seu coração manda, sem se prender a teorias, textos, biografias, críticas, ódios ou qualquer atividade intelectual meramente instigante.

Vou nas festas. Vejo todo mundo dançando, cantando músicas simples, acordes simples. A batida simples, a letras simples. Nada de um Kurt Cobain raivoso, nada de uma Joan Jett Revoltada. Apenas a simplicidade do amor, a simplicidade da dor, a simplicidade da bunda empinada. Por que eu não me junto a eles e empino a minha bunda também? Por que eu não me junto a eles e canto a musica simples também?

E me pergunto: Onde está o meu erro?

Será que eu me prendo demais a essa bolha de individualidade que me afasta da alegria simples? Será que sou eu que não consigo enxergar a felicidade que explode da simplicidade forçada? Será que sou eu a errada?

Simplicidade. Taí algo que eu preciso aprender. Não é mais uma palavra qualquer, é um objetivo. Ser simples. Sem complicações, sem revoltas, sem pensar muito. Apenas caminhar pelo longo e calmo corredor das coisas banais. Eu, você e todo mundo que quiser vir também. Então decido por isso. Abro uma aba, baixo algum reagge. Por que na verdade, eu prefiro um som do Armandinho do que aquela batida simples da Waleska Popozuda. Nada contra ela. A menina deve usar o talento da maneira que bem lhe convir. Eu ainda é que não consegui enxergar a crítica que ela faz à sociedade com aquelas letras de cunho sexual.

A verdade é que eu admiro todas as pessoas simples. Todo mundo que se deixa embalar pelo som da ignorância. Eu queria ser ignorante também. Admiro todo mundo que dorme à noite sem nenhuma preocupação que fuja do círculo da sua própria individualidade. Admiro essa gente que não se importa com o pré-sal, com a vinda do neoliberalismo, com o término precoce da água, com o desmatamento em massa da Amazônia, com o armamento nuclear dos Estados unidos, com a guerra das religiões, com o mistério da manipulação ou com qualquer outra especulação que me tire o sono e que não faça o mínimo sentido. Por que pessoas simples só querem ter uma boa janta, assistir a um bom futebol e ser recompensado com uma boa noite de sono. Pessoas simples só querem se adequar ao que veem na televisão ou nas revistas. Pessoas simples não questionam porra nenhuma. Não se importam com as regras gramaticais, não se lembram das fórmulas físicas. Por que, na verdade, ninguém precisa se importar mesmo. Pessoas simples ficam felizes com a vinda da Copa para o Brasil, por que elas não se importam em pesar os prós e contras. Deixa que aquela gente chata de Brasília faça isso por elas. Mas o pior, é que a gente de Brasília é tão simples, que esquece de ver muitas complicações e deixa tudo ser como deve ser. O Brasil em si, é um espelho de simplicidade.

Então, sem pensar mais, abro meu porta jóias. Um bando de bijouteria que nunca mais vou usar. Dou meus brinquedos, meus livros, minhas revistas, minhas roupas. A teoria do desapego. Originalmente budista. Quase me sinto um Dalai Lama da modernidade, com esse jazz calmo no fundo, com uma sacola enorme com minhas coisas dentro, com um sentimento de alívio. Exorcizei minha vida de toda a tralha que me incomodava. Sai, daqui coisa ruim, sai! Vou ser simples agora, vou ser feliz que nem todo mundo que ve felicidade sem muita dificuldade. Talvez eu até fume uma maconha, pra ver a simplicidade de uma erva natural. Talvez eu até faça uns dreads, pra brindar minha nova vida com um visual que se adeque. Só como o que eu quiser agora. Só tomo o que eu quiser. Sem pensar muito. Pensar deixa a gente doente, sabe? Tipo um vírus. Tu começa a pensar e não consegue parar mais. Daí tu sofre. Por que pensar num mundo em que muita gente não pensa, te torna estranho e solitário. E tu critica tudo muito fácil, por que é muito fácil de criticar coisas erradas. E ninguém entende nada do que tu diz, a não ser aquela minoria de outros excluídos que compõem teu círculo social.

Mas o que exatamente está errado? Aquilo que foge da minha perspectiva banal do que seria o certo? E quem disse que eu estou certa? Chega. Chega de questionamentos vazios. Tô caminhando em rumo à simplicidade, pra ver se lá eu me encontro. Dei meus brinquedos, dei minhas roupas, dei minha implicância com o mundo para alguém que precisa disso mais do que eu. Tô me despindo de coisas que não me convém. Simplicidade. Simplicidade. Simplicidade. Olhem pra mim, amigos. Eu tô correndo atrás das borboletas. E calem a boca do Mário Quintana, por que ele não sabe nada da vida. A gente tem mais é que correr atrás delas mesmo. Prefiro arriscar a perda do que esperar sentada por coisas que talvez não virão.

Simplicidade é isso. É essa satisfação constante, esse deslumbramento fácil. Ser apenas criança não basta, quero ser ignorante. Por que a ignorância é uma benção. O conhecimento te leva pra fogueira. E eu tô cansada de ir pra fogueira.

Peraí, seu guarda, não cheire a minha mão. O Armandinho disse que podia.

Vou fumar uma folha de bananeira, só de brincadeira.

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