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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Vem

Vem morrer comigo.

Eu tô aqui, contando os segundos, os dias, os minutos, os anos luz que vão passar enquanto tu não chega.

Vem, meu amor. Vem me passar segurança dentro dos teus braços. Vem me dizer que nada importa e o tempo deveria parar agora, por que tudo é amor mesmo e estamos bem assim.

Por que tu não pode cair dentro da minha vida e continuar estagnado ali? Não parado, mas constante. Sempre. Inabalável.

Vem, vem ficar comigo. Vem mudar meus horizontes, minhas críticas, meu mundo, meu ódio. Me faz acreditar que o verão é mais bonito que o inverno, que o teu sol me liberta da chuva gelada, que o céu não é o limite. Me mostra tuas opiniões diversas, teus medos infantis, tuas raivas infundadas. Vem me fazer sentir parte de alguma coisa, nem que seja só por alguns instantes. É que não fazer parte de nada me cansa às vezes, e daí eu tenho vontade de andar junto de alguém. Mesmo tropeçando, mesmo mancando, mesmo fazendo tudo errado. Vem me convencer a andar junto.

Sabe todos esses erros que explodem da vida lá fora? Vem me fazer esquecer. Eu não aguento mais chorar por tudo isso e praguejar cada vida alheia. Eu não aguento mais sentir nojo das pessoas, sentir nojo dos sentimentos, sentir nojo de tudo. Vem e me mostra que meus olhos míopes não sabem ver a realidade bonita e pura. As pessoas bonitas e puras. O mundo, bonito e puro. Vem, amor, vem e me diz que tá tudo errado, que a minha ignorância assassina meu talento e que eu escrevo mal. Acaba com meu ego mal influenciado pela mídia. Destrói a minha vaidade sem sentido. Diz, só mais uma vez, que eu não preciso ser perfeita demais, boa demais, inteligente demais. Diz que sendo assim, errada demais, eu tô bem.

Por que tu não pode simplesmente cair na minha vida e encher tudo com o teu sentido simples? Vem, vem me fazer acreditar nas tuas respostas prontas, nas tuas questões jamais impossíveis, nas tuas curiosidades jamais faladas. Me julga, me julga mal, me julga bem, me julga. Por que tu pode fazer isso. Por que a tua inclinação a me fazer feliz iria destruir qualquer mágoa. Por que é assim mesmo que agente funciona. A gente se julga, a gente se critica, a gente se odeia. Um ódio tão bonito, que eu até confundo com amor.

Vem me enganar com as tuas palavras bonitas, com a tua voz baixinha. Fala manso comigo, até eu voltar a acreditar que tu é do bem e eu posso dar mais uma chance. Vem e me ilude com a promessa da felicidade, da casa grande, do cachorro latindo, de uma penca de filhos. Por que, no fundo, eu não quero nada disso. Mas tu pode me fazer querer. Vem e aniquila o meu papo de mulher independete, de mulher auto suficiente, de mulher boazuda. Vem e me exorciza, tira essa maldade de mim. Deixa eu, a criança que te ama, ser a única que existe. Vem e mata todo o meu yang, toda a escuridão. Escava minha caverna tediosa e traz luz pra mim.

Vem morrer comigo pra todas essas crenças, pra todas as pessoas vazias, pra todas as promessas desfeitas. Vem morrer comigo e me ajudar a renascer. Vem ser o fogo que me consome, trazendo a minha fênix de volta. Vem, amor, vem morrer comigo?


 

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