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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sobre algo que termina com ídrico

- Pode meter mais que eu aguento!

- Tem certeza?

- Tenho! Tenho sim, sim! Vai mais fundo, por favor!

Eu quase senti vergonha do meu tom infantil, da minha súplica inconveniente, mas não dei atenção a isso. Eu sabia o que eu queria e não ia dar pra trás. Não mesmo.

Ele me olhou como se não acreditasse no que estava ouvindo. Pegou a minha nuca com força, inclinou ela pra trás e meteu com tudo na minha boca em forma de "o". Eu parecia mais uma boneca inflável do que qualquer outra coisa, mas não me importei. Eu que pedi, eu que tava louquinha pra saber como era. E ele, com todo o seu altruísmo e compaixão, fez questão de saciar a minha curiosidade.

Meteu um cubo cheio de ácido dentro da minha garganta. Daqueles líquidos esverdeados ao estilo laboratório de Dexter mesmo. Me esqueci o nome da substancia, mas sei que terminava com ídrico ou algo assim.

Logo depois que o cubo estava vazio, ele o tirou da minha boca e esperou pacientemente pela minha reação, em um misto de curiosidade e medo, enquanto eu demonstrava satisfação. Indiferença. Mesmo que todo aquele pesar químico estivesse corroendo os meus órgãos e destruindo meu corpo, eu estava totalmente calma.

- Era isso?

Ele perguntou.

Inocente, preocupado, encantador.

- Sim, era isso.

Disse eu, na minha indiferença forçada. Na minha força teatral.

E me mantive naquele sorriso duro, pra não demonstrar o quanto doía. Deve ser muito chato conviver com pessoas que sentem dor e coisas assim, então eu fiz questão de ser imune a isso. A mulher de aço, aquela que não sente nada.

Meio litro de ácido me corroendo por dentro, e tudo que eu fiz foi sorrir. Sorrir e correr pra minha cama, pra que ele não desconfiasse de nada e pudesse ir embora com o sentimento de missão cumprida.


 

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