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domingo, 8 de abril de 2012

Pequeno chilique existencial

São onze da manhã, segundo o relógio do meu celular. Hoje é domingo, não tem despertador. Fui despertada pelo meu medo do escuro lá pelas cinco, mas resolvi mandar os monstros tomar no cu e voltar a dormir. Sei lá, cansei de bancar a garotinha assustada. Olha, hoje é páscoa. Segundo a minha sobrinha de cinco anos, o coelhinho passou na casa dela. Que bom, por que na minha casa o desgraçado não passou. E se passou, eu mandei ele tomar no cu. Vai ver que foi isso que me acordou às cinco da manhã, quando aquele desespero do dia-a-dia me consumiu inteira e eu resolvi não dar bola. Foi o tal do coelhinho cheio de ovinhos de pascoa e coisinhas fofinhas no diminutivo. Que bom que ele foi tomar no cu, por que eu não quero mais chocolate. Não quero mais nada. Chocolate é tão sem graça que agora eu como só pra tirar a atenção da fossa.

Por que ninguém pôde me dar um veneno igual o da Julieta, pra que eu pudesse dormir em paz por mais tempo? Que bosta. Acordo nesse domingo infernal, tendo que suportar os coelhinhos falsos da páscoa me dizendo o que fazer e como comemorar essa data católica que de nada tem a ver com coelhos. Alô-ô, todo mundo sabe que Jesus ressuscitou hoje. Nada de coelhos. E por que coelhos? A coisa do ovo eu até entendo, mas por que coelhos? E se fossem gatos? E se fossem lhamas? Ou furões? Ou anões? Ou fadas? Por que coelhos? São essas perguntas sem resposta com nexo que me deixam maluca. São as questões existenciais que me movem em direção a um imenso tubo zebrado e alucinante que me deixam doidinha. Por que a porra do capitalismo inventou a historinha do coelhinho bonitinho e do chocolatinho gostosinho pra fazer as mães pobres dar todo o salário do mês em nome da tradição puramente econômica da páscoa. É isso aí, economia! Vamos aumentar o marketing, destruir famílias, dar o sonho da páscoa feliz. Mentira, mentira, mentira. É tudo uma mentira. É tudo capitalismo. É tudo sujeira. E eu tô feliz comendo a minha galinha assada nesse domingo – que Deus me perdoe – bem estúpido. Tô feliz com a minha atuação nesse teatrinho de vida urbana. Tô feliz bancando a revoltada, quando não movo um puto dum dedo pra mudar alguma coisa.

Não tenho nada contra o significado religioso, mas o que me irrita mesmo é todo mundo usar isso só pra lucrar. Quer saber, sistema? Vai tomar no teu cu. Tu e esses monstros que me aparecem de noite. Tu e esses coelhinhos saltitantes e assassinos que me assustam na madrugada. Vai todo mundo tomar bem no meio do cu. Mas tirando essa minha parte da revolta, eu tô bem. Tô bem, enquanto nada atinge a minha bolha individualista. Tô bem. Só preciso de uns beijinhos pra me acalmar. Sério, já passou.

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