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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Geração coca-cola?

Entro na livraria lotada com um sentimento de amor profundo por todos os livros existentes. Pisco uma, duas, três vezes, até me acostumar com a iluminação turva dos romances adolescentes e espero até que as lembranças e a minha consciência influenciada pelo mundo crítico de pessoas críticas me envergonhe por meu gosto infantil. Milhares de capas coloridas, títulos cor de rosa, bocas vermelhas, mocinhos vampiros, mocinhos zumbis, mocinhos homossexuais. O bizarro e o incomum são moda agora. Literatura romântica é moda agora. Ser excluída é moda. Ler é moda agora. Por um lado eu fico feliz por essa notável evolução de pré-adolescentes anencéfalas , por outro, fico preocupada com o rumo que isso pode tomar.

Onde foram parar os nerds pálidos com suas camisetas do Star Wars e all stars gastos por andar a pé? Onde foi parar a geração traumatizada pelos sorrisos coloridos dos telletubies? Tudo que eu vejo agora é uma geração decadente de meninas crepúsculo, team Edward, team Jacob, team Tio da padaria, team O diabo que te carregue, team tudo. QUAL A MORAL DISSO? As histórias estão ficando cada vez mais repetitivas e sem conteúdo. Os galãs são sempre os mesmos caras com maxilar proeminente e olhos sedutores. As meninas são sempre as mesmas heroínas deslocas ou americanas viciadas por sapatos. Sempre o clichê da mal-amada, sempre o drama judeu do descendente alemão. Onde foi parar a surpresa, a fantasia, o mistério, o inexistente? A beleza da literatura, vai, paulatinamente sendo assassinada pela mesmice ao estilo monster high.

Na minha época, ser monstro era muito esquisito. Se vestir de vampiro era sinônimo de perdedor e gótico era algo sombrio que assustava criancinhas inocentes. Hoje, o mistério de Byron beira o ridículo. A morte da Julieta não é nada mais do que um suicídio comum feito pelas melhores garotas, nas melhores famílias. Me digam, crianças, quando é que vai surgir os discípulos de J.k. Rowlling ou C.S. Lewis? Daí eu me desespero com essas coisas. Me desespero mesmo, por que todo mundo agora é escritor. Todo mundo acorda num belo dia e começa a escrever a historia de um sonsa que se apaixona por algum monstro mitológico e faz sexo dentro de algum armário em uma casa mal-assombrada.

Me digam, crianças, onde é que vai parar a porra da minha carreira se vocês estão se multiplicando e transformando as melhores histórias em modinhas banais? Onde é que vai parar todo o meu talento pra ver vampirismo, terror e romances impossíveis onde antes nenhum pré-adolescente via? Como é que eu vou ganhar dinheiro se os fan-fics de vocês tão ganhando mais espaço do que os clássicos das Brontë, que a propósito vocês nem conhecem? Ah, eu fico é puta mesmo. E lá se foi a minha tentativa de escrever um texto decente sem palavrões, mas o realismo anda me pegando de jeito e eu não resisto a isso. Tô puta. Puta, puta, puta. Muito puta. Por que acabei de perceber que eu corro um grande risco de passar fome por culpa dessa gentinha sem informação. E pra completar, nem a porra da minha originalidade nata vai valer pra alimentar minha reputação. Sabe o que eu vou ser? Mais uma anencéfala da geração crepúsculo, team Edward, apaixonada por Ian Somerhalder e muito, muito emo.

Renato Russo deve estar se debatendo no caixão agora, ao perceber que somos o futuro da nação, mas a coca-cola só serve pra encher de celulite a nossa bunda sedentária. Encher de pedras, nossos rins mal alimentados. Encher de estrago, nossos dentes amarelos.

Morra, geração emocore. Morra e me liberte dessa tragédia.


 

 

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