Translate

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O murro

Respirei fundo e tomei a decisão mais importante da minha vida: Eu vou te dar um murro. Bem no meio desse teu nariz aristocrático de merda, que faz questão de se manter empinado enquanto eu me arrasto pelo chão, com meu nariz torto e assimétrico. Eu vou fechar minha linda mão em um punho bem forte e te fazer esquecer de todos os carinhos e de todos os estímulos que ela possa um dia ter te causado, por que no fim, o que sobra mesmo é sempre a violência. E nós sabemos disso. Então, por favor, seja agora o cavalheiro que tu nunca foste e fica aí bem paradinho, enquanto eu arrumo minha mira. Sério, eu juro que depois vai passar a dor. Só me deixa te dar um soco bem dado e deu. Depois do soco posso até te amar se tu quiser, mas deixa eu te socar. Ou então não deixe. Eu posso fazer isso sem permissão mesmo, o que provavelmente irá causar mais emoção do que um soquinho feminino com a permissão do macho prepotente.

Esquece. Esquece tudo que eu disse. Eu simplesmente vou te socar sem a tua permissão. Por que a bem da real, é que tu não merece que eu fique de mimimi. Mimimi é coisa de guriazinha burguesa que pode fazer mimimi pra quem tem saco pra ouvir mimimi e ta pouco se fudendo se a tal da garota mimimi entende algo da vida além dos seus mimimis. Por que, no fundo, eu amo meu lado macho. Eu sou muito macho, sabia? Sou macho mesmo. Só me falta o pênis, por que o resto eu tenho. Desde a grosseria até a imaturidade. O problema é que eu faço tanta questão de ser mulher, que muitas vezes me esqueço de ser homem. Mas chega. Chega de ser mulher.

Eu vou ser homem. Não sou lésbica nem nada, mas preciso despertar minha violência masculina, pra ver se rende alguma coisa além de decepções. Por que, no fundo, eu gosto mesmo é do que é grotesco. Adoro essa coisa toda de jogar um catarro no chão e ter orgulho disso. Adoro essa coisa de tratar todo mundo mal e esse todo mundo achar isso tudo muito normal, mas odeio rimas. Por que rimas são coisas de mulherzinha, de baitola mesmo. E eu sou macho! Olhem para mim e invejem meus testículos de ouro, seus viados. Olhem para mim, eu que vivo precisando re-afirmar a minha masculinidade fazendo ou falando alguma coisa estúpida pra que acreditem em mim. Mas vocês não precisam saber disso, por que a imagem que eu vendo é infinitamente mais saudável da que aquela que eu realmente sou. Então, daqui em diante, comprem essa imagem. Esse quadro pintado por mim, o idiota que não sabe desenhar, mas faz esboços fracos do que eu quero que vocês vejam. Tão vendo? Eu desenho a mim mesmo cheio de erros e traços livres, pra tentar demonstrar alguma liberdade que definitivamente não me pertence. Tão vendo? Eu sou um rabisco com significado misterioso que nenhum de vocês poderá descobrir. Ou, pior que isso, vocês nem querem descobrir. Mas foda-se, eu sou livre, estúpido e muito misterioso. E as meninas ficam maluquinhas com o meu mistério.

Falando em meninas... Acabo de me lembrar que não sou lésbica. O que notavelmente me atrapalha, eu, a mulher com natureza masculina, que não sabe ver beleza na casca dessas bonequinhas de porcelana que andam por aí. Como que eu vou meter a minha língua nos rins delas, se não sinto a mínima vontade de fazer isso? Mas eu sou macho! Eu sou macho, e tenho que re-afirmar a minha masculinidade enfiando meus dedos e língua e sujeiras e cantadas em todos os buracos que elas me oferecem. Como é bom viver na malícia de quem usa e não quer saber mais. Como é bom não ter que dar satisfação pra ninguém, por que a dignidade é minha e eu acabo com ela do jeito que eu quiser. Como é bom mentir pra mim mesmo e acreditar nas minhas mentiras. E, logo quando eu tenho toda a certeza e satisfação do mundo com a minha alma de porco, que ela aparece. Aquela garotinha sonsa que fica dizendo que acredita em mim e tal. Mas eu faço questão de expulsá-la daqui. Vai viver a tua vida e deixa eu curtir a minha, porra! Por que, apesar de todos os textos e palavras e carinhos, as mulheres são todas iguais. E eu não vou ceder pra uma que, além de não querer me dar, ainda acha que tem o direito de vir e criticar o que eu quero da minha vida.

E quer saber do que mais?

Eu... Eu...

Eu...

Eu o que mesmo?

Deu, passou.

Quase como o que acontece naquelas sessões espíritas, eu voltei ao meu corpo.

E como é que vai ser o epílogo desse meu texto maravilhoso? Ainda não sei. A minha febre de ser homem acabou passando rápido e agora só resta a velha e boa massa feminina. Aquela que tem a mania de ficar triste e criticar as coisas que a deixam triste. Logo eu, que queria ser homem. Logo eu, que sei exatamente como é ser homem. Mas não, não. Fui nascer mulher, esse sexo estúpido e cheio de mimimis. Sobre o que eu tava falando mesmo quando comecei o texto?

Ah sim, murro.

Então, a você, querido amigo neandertal que eu odeio e está lendo esse texto, saiba que eu quero dar um belo murro no meio da tua cara.

E tenho dito.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário