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sexta-feira, 9 de março de 2012

Aquele

Meu Deus que menino lindo. Que menino lindo. Que. menino. lindo. Era só nisso que eu pensava quando o via passando por mim com uma turma enorme de garotos descolados e meninas peitudas que tinham os cortes de cabelo mais invejados da escola. Era ele. O meu principe encantado, o meu Robin Wood, o meu amor imortal e indissolúvel que jamais iria ter fim por toda a eternidade. Era ele que estava com um capuz tapando metade do rosto perfeito, metade dos olhos perfeitos, metade do nariz e dos cravos perfeitos que ele tinha no mesmo nariz perfeito e que tapava metade do cabelo perfeito. E o dia tava tão nublado e triste que eu nem me importei de ficar reparando naquele raio de sol que me iluminava logo adiante. Era ele, era ele. O futuro pai dos meus filhos, o homem que iria surgir com um cavalo branco na frente da escola e gritar pra todo mundo que me amava. Era ele, o meu primeiro e ultimo e incrível e lindo e maravilhoso e estupendamente deslumbrante namorado. Obvio que ele não sabia disso, mas eu fazia questão de me lembrar da nossa relação todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Exceto em momentos esquisitos como esse, em que eu estava enfiada no orelhão tentando desesperadamente telefonar pra minha mãe enquanto meus dedos tremiam e minhas costas suavam e meus olhos estavam grudados no corpo dele, na boca dele, nos olhos dele, nele inteiro.E, claro, em todas aquelas garotas vadias que o acompanhavam. Qual era o problema desses meninos bonitos? Eu simplesmente não conseguia entender por que eles faziam questão de ficar rodeados de garotas-barbie e de desfilar com elas por ai, como se fossem apenas bons amigos e nem se importassem com a bunda perfeita delas. Não, eu nunca entendi mesmo. Mas eu nem ligava, desde que pudesse acordar no outro dia e vê-lo tão lindo e tão perfeito e tão forte e tão másculo e tão sensível desfilando com elas novamente. E, meu Deus, que menino lindo. Chegava a dar nojo de olhar. Tipo quando um doce é tão doce que a gente enjoa, sabe? Ele era lindo demais. Quase me cegava de tão lindo. E tivemos uma ótima relação, eu e ele. Meu primeiro beijo, minha primeira fuga romântica no meio da madrugada. A primeira musica que eu o inspirei a criar.Mas ele nem sabe. Nem desconfia. Foi uma historia muito bonita, sabe? Durou um ano e meio. Que foi o tempo suficiente pra que eu deixasse de ser a garota totalmente estranha e passasse a ser apenas estranha. E, na minha condição de apenas estranha, me apaixonei de novo.

Mas o que me fez lembrar de toda aquela minha historia trágica de amor, foi ter visto o mesmo pai dos meus filhos, o mesmo príncipe encantado, o mesmo guitarrista lindo e perfeito dos meus sonhos de adolescente totalmente estranha, em uma foto estampada no meu facebook. Da pra acreditar? O cara dos meus sonhos de catorze anos continua ali, postando fotos exibicionistas e falando sobre musicas e shows que ele tanto faz e tanto ama. E fica se declarando todos os dias pra uma barbie-colegial com a bunda perfeita que se tornou namorada dele. E , adivinhe só, foi a primeira pessoa a me desejar feliz aniversario no ano passado. Da pra acreditar? E se isso tudo não fosse tão engraçado e tão irônico e tão irritante, eu provavelmente não teria saco nem inspiração pra escrever sobre ele de novo, depois de tanto tempo. Mas eu tenho. Saco e inspiração. E uma vontade imensa de me exibir para a menina estranha de 14 anos. Ela teria pirado. Teria dado 5 duplo twist carpado pra trás. Ela teria chorado de tanta emoção. Mas o que a versão 4 anos mais velha e madura e menos estranha do que ela faz? Nada. Ver isso não me causa nada alem de uma constatação de que a vida é muito irônica e de que certamente ela gosta de rir da minha cara. E ele também. Não é todo dia que a gente ganha um feliz aniversario do "ex imortal e estupendo e incrível amor da nossa vida". E é muito difícil ter de ver as fotos felizes da vida feliz da minha "ex alma gêmea" e saber que ele nunca foi nada alem do que eu criei na minha própria imaginação. E é mais difícil ainda, constatar que ele não é mais o amor da minha vida e muito menos a minha alma gêmea. E que o rosto perfeito dele não passa de um rosto comum cheio de cravos e espinhas e pelos da barba mal feita. Mas de tudo isso eu posso ter boas conclusões. Quer dizer, nada é pra sempre, certo? E se o "ex futuro pai dos meus filhos" hoje não passa de um "ex amor platônico patético e imaturo", tudo pode ser esquecido. E saber disso é a única coisa que me faz acreditar que todo o amor morre um dia, mesmo que a gente ache que vai ser imortal. Acho que isso é um ciclo natural, certo? Tudo nasce, cresce e morre. Ate mesmo aquele menino supostamente perfeito que morreu em mim. Ate mesmo o amor.

Um comentário:

  1. Sara, amei seu blog, além de textos maravilhosos, o título é muito original. parabéns!!!

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