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quinta-feira, 1 de março de 2012

Limonada

Ela espreme o limão no copo e me dá a limonada. Mas sem saber, adocica a minha vida com um pouco de ácido cítrico.

- Tu quer mais açúcar?

-Não, não, tá bom assim.

- Mas eu sei que tu gosta de açúcar...

- Me deixa em paz, mãe.

Ela sai. Metade magoada, metade enojada. Medindo com o termômetro de mãe o quão perigosa é a minha situação de suicida estomacal diante de um limão. Provavelmente ela se lembra de quando eu era viciada em açúcar. Não sou mais, mãe. Não, mãe, eu não quero mais uma colher. Nem se for de chá. Nem de nada. Como tu não percebes? Então ela se preocupa. Enquanto eu engulo 500 gramas de carne de animais abatidos em matadouros que tanto critico, ela se preocupa. Não sou mais uma pseudodiabética mãe. Nem uma ativista vegetariana. Nem nada. Gosto de limões e gosto de frango. O doce da carne, o azedo da fruta. O agridoce que é o resultado da culpa com o prazer.

A vida mãe, é azeda que nem o limão que eu tô tomando. E a gente tem que engolir ele inteirinho, sem água nem açúcar nem nada. Eu já adocei demais o meu limão mãe, adocei tanto que perdeu o gosto e apodreceu. E a carne que eu odeio e me dá repugnância, ela devolve a vida, sabe mãe? O coração do animal que morreu, a carne do defunto. Não sei, tenho a impressão de que me revitaliza. Sabe mãe?

Mas ela não compreende. E nem eu... Nem eu.

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